As próprias palavras usadas nessas formas de comunicação — e na cultura como um todo — refletem e perpetuam essa supervalorização da penetração. Relegamos a estimulação do clitóris que vem antes da relação sexual como um tipo de "preliminar", sugerindo que é uma forma menor de sexo.
Vários estudos demonstraram que tais mensagens dão a ideia de que o sexo deve ocorrer da seguinte forma: preliminares (apenas para preparar a mulher para a relação sexual com penetração), relação sexual com penetração, orgasmo masculino e sexo finalizado.
Nesta versão do sexo, seria trabalho do homem "dar" à mulher um orgasmo ao prolongar o sexo e penetrar com força.
Não surpreende que pesquisas já tenham mostrado que os homens se sentem mais masculinos quando sua parceira tem orgasmo durante a relação sexual com penetração. E não é surpresa que as mulheres finjam orgasmos, principalmente durante essa etapa da relação sexual, para proteger os egos de seus parceiros.
Estudos sugerem que entre 53% a 85% das mulheres admitem fingir orgasmos. Algumas pesquisas indicam que a maioria das mulheres já fingiu o orgasmo pelo menos uma vez na vida.
Diminuindo a lacuna
Mas há esperança, dado que fatores culturais são responsáveis pela lacuna do orgasmo. Mudar a forma como vemos o sexo ajudará a melhorar as experiências sexuais das mulheres.
É importante educar as pessoas sobre o fato de que as mulheres não têm uma capacidade biológica limitada para o orgasmo. Da mesma forma, a instrução de homens e mulheres sobre o clitóris pode ser um divisor de águas.
Ainda assim, é improvável que esse conhecimento sozinho complete a lacuna do orgasmo em um nível pessoal.
Segundo um livro de terapia sexual, as mulheres precisam de habilidades para colocar esse conhecimento em prática. Isso significa que as mulheres devem ser encorajadas a se masturbar para aprender o que desejam sexualmente. E isso precisa ser acompanhado de práticas de comunicação para que elas possam compartilhar essas informações com seus parceiros.
As mulheres precisam se sentir com direito ao prazer e empoderadas para obter o mesmo tipo de estímulo sozinhas e com um parceiro. Isso significa que os casais heterossexuais devem se livrar do velho roteiro que exige preliminares seguidas de penetração, após o qual o sexo termina.
Em vez disso, os casais podem se revezar tendo orgasmos com sexo oral ou estimulação manual, onde ela pode ter um orgasmo após a penetração.
As mulheres também podem se tocar com as mãos ou com um vibrador durante a relação sexual.
Pesquisas mostram que mulheres que usam vibradores têm mais orgasmos. E como muitas mulheres se preocupam com sua aparência durante o sexo ou se estão agradando seu parceiro, um outro estudo mostrou que técnicas de meditação mindfulness também podem ajudar.
Mas a igualdade no orgasmo pode ter reflexos que vão além da qualidade do sexo. Várias mulheres me disseram que, uma vez que se sentiram empoderadas no quarto, ficaram mais confiantes no resto da vida.
É importante ressaltar que, de acordo com um estudo, sentir-se com direito ao prazer aumenta o arbítrio de uma mulher para dizer aos parceiros o que elas desejam sexualmente e para se proteger no sexo.
O estudo descobriu que o sentimento de direito ao prazer sexual aumentou a confiança das mulheres tanto para se recusar a praticar atos com os quais não se sentiam confortáveis quanto para usar proteção contra a gravidez e infecções sexualmente transmissíveis.
De acordo com outro artigo, sobre educação sexual e escrito por dois pesquisadores de saúde dos Estados Unidos, quando os jovens aprendem que o sexo deve ser prazeroso, é menos provável que eles o usem de maneira manipuladora e nociva.
Portanto, ensinar que o sexo é prazer para ambos os parceiros, e não algo feito com as mulheres para o prazer dos homens, também pode ajudar a diminuir os níveis de violência sexual.
Claramente, ensinar sobre o prazer das mulheres fará mais do que apenas aumentar as taxas de orgasmo.
*Laurie Mintz é professora emérita de psicologia na Universidade da Flórida, nos EUA
**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em inglês.
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