Ainda sem nome oficial e de origem indefinida, uma variante do coronavírus pode ser mais virulenta que as anteriores. Identificada, até agora, em Israel e na Dinamarca, ela pode ter chegado ao Reino Unido e aos Estados Unidos, disseram especialistas ouvidos pelo tabloide britânico The Mirror. Embora a publicação chame a cepa mutante de BA.6, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não registra, por ora, o vírus mutante — a versão mais recente do Sars-CoV-2 atualizada pela agência das Nações Unidas é a eris (XBB.1.9.2), classificada como "de interesse" há uma semana. Ela está presente na Inglaterra, nos Estados Unidos e na China.
Segundo o pesquisador brasileiro Túlio de Oliveira, diretor do Centro para Respostas e Inovações em Epidemias da África do Sul, há muita discussão entre cientistas sobre as três sequências da ômicron altamente mutantes comprovadamente detectadas, por enquanto, na Dinamarca e em Israel. "Está em discussão se é a BA.2 alterada ou uma nova linhagem, a BA.6", explicou, pelo Twitter.
Os sequenciamentos foram descobertos pelo professor de ciências norte-americano Ryan Hisner. Tema de uma reportagem recente da revista Nature, o docente da área rural de Monroe (Indiana) atraiu a atenção de virologistas pela capacidade de detectar mutações incomuns no Sars-Cov-2. Voluntariamente, ele analisa volumes de dados gigantescos atrás de alterações que possam dar origem a uma nova variante.
A primeira sequência rastreada por Hisner foi em uma amostra israelense, no domingo passado. Pelo Twitter, o professor contou que, por enquanto, os cientistas preferem chamar a provável cepa de BA.X e afirmou que ela tem mais de 30 mutações na proteína spike. É semelhante à quantidade de alterações da BA.1, que surgiu no ano passado, comparada à sua predecessora.
"Os rastreadores estão observando de perto a BA.X. Lembre-se de que existem apenas algumas sequências até agora. Por isso, ela ainda não consegue competir com as variantes dominantes e pode nem decolar", afirma o biólogo evolutivo T. Ryan Gregory, da Universidade de Guelph, no Canadá. "Mas é uma variante interessante e 'potencialmente' preocupante", afirma, destacando o "potencialmente" porque pouco se sabe sobre ela até agora.
O registro em mais de um país também chama a atenção, segundo Gregory. "O fato de ter sido identificada em Israel e na Dinamarca é um pouco preocupante porque claramente não está restrita a uma região. Além disso, esses são lugares que ainda sequenciam. Então, é bastante provável que ela não tenha sido detectada em alguns outros países", explica.
Disseminação
Citados pelo The Mirror, cientistas afirmaram que, em breve, a variante será identificada no Reino Unido e nos Estados Unidos. "Tenho certeza que já está aqui. Se não, provavelmente estará muito em breve", destacou o infectologista Thomas Moore, da Universidade do Kansas. Em um tuíte reproduzido pelo jornal, Trisha Greenhalgh, especialista em cuidados primários de saúde da Universidade de Oxford, aconselhou os britânicos a voltarem a usar máscaras faciais. "Meus vários grupos científicos do WhatsApp estão fervilhando. Diagramas de linhagem genética voam de um lado para o outro. Entendo pouco dos detalhes, mas parece que é hora de mais uma vez usar a máscara."
- Covid-19: cientistas recomendam volta do uso de máscaras
- Ministra da Saúde anuncia memorial para vítimas da covid-19
Christina Pagel, matemática da Universidade College London e integrante do Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização (Sage) da OMS, publicou, há dois dias, um artigo no site da revista médica The British Medical Journal expressando preocupação com a nova variante. Embora reconheça que a BA.X está em seus dias "muito precoces", ela destacou que há muitas mutações que a diferenciam de variantes anteriores da ômicron, inclusive aquelas que fazem com que escape ao sistema imunológico. "Ela tem potencial maior de causar uma grande onda (de casos)", alertou.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.