Um satélite deve cair na Terra nesta sexta-feira (28/07), após completar uma missão inovadora para mapear os ventos do planeta.
O dispositivo, chamado Aeolus, disparou lasers na atmosfera com o objetivo de monitorar o movimento do ar em qualquer local e altitude ao redor do mundo.
Mas o projeto quase não conseguiu decolar — devido à dificuldade em fazer o Aeolus funcionar.
Por mais de uma década, engenheiros lutaram para desenvolver um instrumento ultravioleta capaz de operar por tempo suficiente no vácuo do espaço. E esse atraso levou o Aeolus a ser apelidado de "o satélite impossível".
Os engenheiros, sob a liderança da Agência Espacial Europeia (Esa), insistiram por causa do resultado almejado — a primeira visão verdadeiramente global de como os ventos se comportam na Terra, desde a superfície até a estratosfera (de 0 a 30km de altitude).
No entanto, no tempo que levou para o Aeolus chegar à plataforma de lançamento, em 2018, e voar em sua missão de quase cinco anos, as melhores práticas para retirar satélites extintos de órbita mudaram.
Eles agora precisam ter a capacidade de cair em uma zona segura ao voltar à Terra ou assegurar que queimem por completo ao passar pela atmosfera.
E o Aeolus, que pesa mais de uma tonelada, não se encaixa em nenhum dos casos.
Seu sistema de propulsão é fraco demais para direcionar precisamente de onde vai cair do céu — e é provável que até 20% dele resistam à reentrada.
Por isso, controladores de voo da Esa passaram a semana toda preparando uma "reentrada assistida". Eles estão comandando o satélite para baixar sua altitude com uma série de manobras — a última, prevista para esta sexta-feira, deve diminuir sua altitude para 120 km.
"Neste ponto, a força de arrasto da atmosfera deve puxá-lo para baixo", diz Isabel Rojo, diretora de operações da Esa, à BBC News.
"Esperamos que a reentrada aconteça em algum lugar sobre o Oceano Atlântico, movendo-se na direção sul-norte."
Como medir o vento do espaço
- O Aeolus disparou um laser ultravioleta na atmosfera e mediu o sinal de retorno usando um grande telescópio;
- O feixe de luz foi espalhado pelas moléculas de ar e pequenas partículas que se moviam ao vento em diferentes altitudes;
- Meteorologistas ajustaram seus modelos numéricos para corresponder a essas informações, melhorando a precisão da previsão do tempo;
- Os maiores impactos ocorreram nas previsões de médio prazo — aquelas que analisam as condições do tempo daqui a alguns dias;
- O Aeolus desempenhou um papel crucial durante a pandemia de covid-19, repondo dados sobre o vento que haviam sido perdidos porque os aviões não estavam voando.
Os detritos que chegarem à superfície do mar provavelmente vão incluir elementos do telescópio e dos tanques de combustível do satélite. Mas dada a localização remota do Atlântico, o risco à vida é mínimo.
As observações inéditas do Aeolus provaram ser extremamente úteis para previsões meteorológicas de médio alcance. Ele monitorou os comportamentos do vento que contribuiriam para padrões climáticos alguns dias à frente.
Seu trabalho também melhorou nosso conhecimento dos furacões e de como as cinzas vulcânicas viajam na alta atmosfera.
Antes do Aeolus, os perfis de vento eram obtidos por meio de uma miscelânea de métodos — de anemômetros giratórios, balões e aviões a satélites que inferem o comportamento do vento monitorando nuvens no céu ou observando a agitação das águas do oceano.
Mas tudo isso é limitado a lugares ou alturas determinadas, e é por isso que a perspectiva global do Aeolus era tão valorizada.
Os estados membros da Esa já aprovaram um orçamento de € 413 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) para começar a trabalhar em uma missão de acompanhamento chamada, apropriadamente, Aeolus-2.
Uma contribuição financeira adicional (cerca de € 900 milhões; R$ 4,7 bilhões) será feita pela Eumetsat, a organização intergovernamental que gerencia os satélites meteorológicos da Europa.
A primeira missão de acompanhamento deve ser lançada no fim desta década.
A contribuição do Reino Unido na Esa, € 71 milhões (aproximadamente R$ 374 milhões), combinada com sua associação (16%) na Eumetsat, significa que o braço britânico da fabricante aeroespacial Airbus provavelmente vai liderar a produção da espaçonave mais uma vez.