Todo mundo sabe contar um caso de uma pessoa inteligente que dá seus tropeços inexplicáveis. Ficamos pensando: puxa, mas é tão inteligente, como pode?
A ferramenta mais usada para se medir a inteligência de uma pessoa é a medida de seu QI , que inclui testes visuoespaciais, conhecimento matemático, vocabulário, entre outros testes. Mas o QI não diz tudo.
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É claro que vale a pena ser inteligente e sabemos que isso tem um forte componente genético. Pessoas inteligentes têm mais sucesso acadêmico e no trabalho, além de terem menor chance de se meterem em encrenca. Apesar dessas vantagens, a inteligência não garante o sucesso em outras dimensões, como o bem-estar e a longevidade.
O pensamento crítico é algo diferente. Este, sim, está associado ao bem-estar e à longevidade. Ele é um conjunto de habilidades cognitivas que nos ajuda a pensar racionalmente e de forma orientada.
Uma pessoa com alto grau de pensamento crítico precisa de evidências que apoiem suas crenças. Podem ser flexíveis, mas precisam de evidências para seguir um rumo ou outro e reconhece contradições nas argumentações.
Estudos feitos em diferentes centros de pesquisa mostram que as pessoas com pensamento crítico experimentam menos eventos negativos na vida. As escalas que medem essa habilidade costumam incluir testes de raciocínio verbal, análise de argumentos, testagem de hipóteses, probabilidade e incerteza, resolução de problemas e tomada de decisões. Também é incluído nessa avaliação um questionário de eventos negativos que abrange a vida acadêmica (e.g., esquecer o dia da prova), saúde (e.g., contrair uma doença sexualmente transmissível por não ter usado camisinha), legal (e.g., ser preso por dirigir alcoolizado), interpessoal (e.g., traição), financeira (e.g., dívidas fora do controle), etc. O aprendizado de um pensamento crítico existe, e isso pode ser exercitado desde a infância.
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Então, é melhor ter um pensamento crítico ou ser inteligente? Pesquisadores já testaram esse duelo e o desfecho foi o de que ter ambos é o melhor, mas quando se pensa em eventos negativos na vida, o pensamento crítico ganha.
A história está cheia de exemplos de idiotices, e muitos deles nos faz pensar que faltou tanto pensamento crítico quanto inteligência. Os troianos levaram o cavalo de Troia para dentro das muralhas da cidade achando que seria um símbolo de vitória de algumas batalhas. Esqueceram de checar o recheio grego. A torre de Pisa já era torta mesmo antes do término de sua construção. O governo francês investiu 15 bilhões de dólares em novos trens para descobrir que eles eram muito grandes para cerca de 1.300 estações ferroviárias.
Um estudo recente no periódico Intelligence dividiu as idiotices em três diferentes tipos. É o ladrão que rouba uma TV e é preso quando volta ao local do crime para pegar o controle remoto. É o homem que engatou um carrinho de supermercado a um trem e morreu após ser arrastado por mais de cinco quilômetros. Isso para não pagar a passagem. Outro exemplo é o de um terrorista que enviou uma carta bomba com uma quantidade insuficiente de selos. A carta voltou e ele abriu a própria carta. Bum. Não são meros acidentes.
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O primeiro tipo de idiotice é explicado por excesso de confiança. Um bom exemplo é o de homem que assaltou um banco à luz do dia sem disfarce nem máscara e achou que seu rosto ficaria invisível para as câmeras de segurança porque esfregou limão no rosto. Uma pesquisa mostra que, depois de testes de lógica e gramática, voluntários que tiveram as piores notas eram frequentemente os que julgaram ter apresentado um bom desempenho nos testes. O segundo tipo é decorrente de impulsividade, atos em que o comportamento está fora do seu controle habitual. É o caso das pessoas que publicam conteúdos nas redes sociais e logo se arrependem. O terceiro tipo de erro é explicado pela falta de atenção. O cara dirige 200km de Brasília até Goiânia quando, na verdade, estava querendo ir a Paracatu.
Todos nós estamos sujeitos a superestimar nossas capacidades, tomar decisões por impulso e falhar por falta de atenção. Algumas pessoas, às vezes, exageram na dose.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília
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