Psiquiatria

Transtorno bipolar: risco de morte pode ser até seis vezes maior

Ao analisar dados colhidos por, em média, oito anos, cientistas da Finlândia concluíram que indivíduos com transtorno bipolar têm maior risco de morrer por causas externas, como acidentes, e somáticas

Pessoas com transtorno bipolar, caracterizado por fortes oscilações no humor, têm seis vezes mais risco de morrer prematuramente em razão de acidentes, violência e suicídio. É o que aponta uma pesquisa publicada, nesta terça-feira (18/07), na revista BMJ Mental Health. O estudo também afirma que esses pacientes têm o dobro de risco de morrer por causas somáticas e problemas físicos. O álcool aparece como um importante fator ligado a essa maior vulnerabilidade.

"Estratégias preventivas direcionadas ao abuso de substâncias provavelmente reduzirão a lacuna de mortalidade tanto por causas externas quanto somáticas. A prevenção do suicídio continua sendo uma prioridade, e uma maior conscientização sobre o risco de overdose e outras intoxicações é justificada", afirmam, em nota, os pesquisadores.

Para detalhar relação entre o transtorno e mortes prematuras, os cientistas, liderados por Tapio Paljärvi, do Hospital Niuvanniemi, na Finlândia, utilizaram registros médicos e de seguro social, feitos entre 2014 e 2018, de indivíduos com 15 a 64 anos e diagnóstico de transtorno bipolar.

Eles calcularam a relação entre o número de mortes em um determinado período, cerca de oito anos, entre quem tinha a doença e a taxa de mortalidade da população finlandesa em geral. Ao todo, 3.300 dos 47.018 pacientes morreram durante o monitoramento — o equivalente a 7%. A taxa equivale a um risco seis vezes maior de morte por causas externas e um risco duas vezes aumentado de morte por causas somáticas, comparada à amostra geral.

Fígado

As causas dos falecimentos foram questões somáticas (61% ) e fatores externos (39%). O álcool foi o responsável pela maioria, 29%, dos óbitos do primeiro grupo, seguido por doenças cardíacas e derrame, com 27%. Das mortes relacionadas à substância, quase metade, 48%, se deu devido a problemas no fígado. Entre as mortes por causas externas, a maioria foi por suicídio, chegando a 58%.

Segundo o psiquiatra Anibal Okamoto Júnior, que atua em Brasília, a pessoa com o transtorno apresenta mudanças no humor que variam da depressão à mania — quando há euforia, e o indivíduo se sente grandioso. Nesse caso, a pessoa pode ficar impulsiva. "Esses comportamentos precipitados podem levar a situações perigosas. Por exemplo, gastar dinheiro em excesso e se endividar, ter relações sexuais de risco, ficar irritado, brigar sem motivo ou mesmo beber demais e ter problemas de saúde", detalha.

O especialista explica que, durante os períodos de variação do humor, ocorrem alterações biológicas, como a desregulação de neurotransmissores, e mudanças na atividade de regiões cerebrais. "Todos esses processos aumentam o nível de estresse e liberação de substâncias inflamatórias, causando envelhecimento precoce, tanto cognitivo quanto físico", complementa. (IA)

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