Pesquisadores encontraram adornos corporais, que parecem pingentes, feitos com dentes de preguiça-gigante há cerca de 25 mil anos. A descoberta é uma das evidências da interação entre humanos e mamíferos grandes da Era do Gelo — nome dado ao longo período de baixas temperaturas, em que a Terra esteve coberta por gelo. Os artefatos foram localizados no Abrigo de Santa Elina, no Mato Grosso. O local é considerado o segundo sítio arqueológico mais antigo do Brasil.
“Entre os milhares de osteodermos (estruturas ósseas) fósseis no local, o estado perfurado e polido dos três osteodermos estudados aqui é excepcional. Essas observações mostram que esses três osteodermos foram modificados por humanos em artefatos, provavelmente ornamentos pessoais", pontuaram os autores do estudo. Segundo o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma ossada de preguiça-gigante, extinta há 10 mil anos, também já foi encontrada no sítio. As preguiças-gigantes mediam aproximadamente quatro metros, podendo pesar até 1.500 quilos.
"As suas formas únicas e diversificadas, tamanhos de furos e presença de diversos vestígios antropogênicos sugerem que diferentes ferramentas e técnicas podem ter sido utilizadas durante o processo de produção e acabamento dos artefactos finais. As perfurações de orifícios desgastados e superfícies deformadas, bem como sistemas de fixação e vestígios de desgaste, sugerem seu uso extensivo, provavelmente como ornamentos suspensos", explicaram os pesquisadores.
Os autores ressaltaram que o sítio Santa Elina é um espaço central para o debate sobre a ocupação humana e comportamento simbólico. "Nossos resultados oferecem novos insights sobre a zooarqueologia da megafauna no Pleistoceno da América do Sul e o comportamento cultural de alguns dos primeiros habitantes do continente", frisam.
O estudo foi conduzido pelas paleontólogas Mírian Pacheco e Thaís Pansani, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e por Águeda Vialou e Denis Vialou, do Museu Nacional de História Natural de Paris. A pesquisa foi publicada no periódico The Royal Society e pode ser acessado na íntegra neste link.