Um estudo sobre infidelidade — feito pelo Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos — mostrou que as pessoas casadas que têm casos fora do matrimônio os consideram "altamente satisfatórios", dizem ter pouco remorso e acreditam que a traição não prejudicou seus casamentos saudáveis.
A pesquisa foi feita com pessoas que usam o Ashley Madison, um site para "facilitar" casos extraconjugais, desafia as noções amplamente difundidas sobre infidelidade, especialmente sobre as motivações e experiências dos traidores. O trabalho foi publicado na revista Archives of Sexual Behavior (e pode ser lido na íntegra neste link).
"Na mídia popular, em programas de televisão, filmes e livros, as pessoas que têm casos têm essa culpa moral intensa e não vemos isso nessa amostra de participantes", disse o autor principal Dylan Selterman, professor associado do Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro da Universidade Johns Hopkins.
"As classificações de satisfação com os casos foram altas: satisfação sexual e satisfação emocional. E os sentimentos de arrependimento eram baixos. Essas descobertas mostram um quadro mais complicado da infidelidade em comparação com o que achávamos que sabíamos", aposta.
Selterman ainda aponta que a infidelidade não é necessariamente o resultado de um problema mais profundo no relacionamento. "As pessoas têm uma diversidade de motivações para trair", disse o pesquisador. "Às vezes, elas traem mesmo que seus relacionamentos sejam muito bons. Não vemos aqui evidências sólidas de que os casos das pessoas estejam associados a uma menor qualidade de relacionamento ou menor satisfação com a vida".
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Os trabalhos da pesquisa foram feitos em parceria com pesquisadores da University of Western Ontario e entrevistou exatos 2.290 usuários ativos do Ashley Madison — antes e depois de terem tido casos.
Satisfação sexual e amor
Os participantes foram questionados sobre a situação do casamento, sobre o motivo pelo qual desejavam ter um caso e sobre seu bem-estar geral da relação (entre outras perguntas). De 65% a 70% das pessoas ouvidas afirmaram já ter traído durante um relacionamento.
A maior parte dos entrevistados eram homens de meia-idade (entre 48 e 51 anos de idade) que relatam "altos níveis" de amor por seus parceiros (cerca de 35% a 55%), mas baixos níveis de satisfação sexual — entre 47% e 52% não estavam satisfeitos com os atuais parceiros de relação. Cerca de metade dos participantes disse que não era sexualmente ativa com os parceiros.
A insatisfação sexual, inclusive, foi a motivação mais citada para se ter um caso, com outras motivações incluindo o desejo de independência e de variedade sexual. Problemas fundamentais com o relacionamento, como falta de amor ou raiva do cônjuge, estavam entre os motivos menos citados para querer trair.
A pesquisa apontou que a qualidade dos relacionamentos não era um fator decisivo para a traição. Nota-se que os relacionamentos têm elevadas taxas de confiança e amor, porém os índices de satisfação sexual eram menores.
A pesquisa também constatou que ter "ótimos casamentos" não aumenta a probabilidade das pessoas que traíram se arrependerem dos casos. Em geral, os participantes relataram que o caso foi altamente satisfatório, tanto sexual quanto emocionalmente, e que não se arrependeram de tê-lo tido.
"O ponto principal para mim é que manter a monogamia ou a exclusividade sexual, especialmente ao longo da vida das pessoas, é muito, muito difícil e acho que as pessoas consideram a monogamia algo garantido quando estão comprometidas com alguém em um casamento. As pessoas simplesmente presumem que seus parceiros ficarão totalmente satisfeitos em fazer sexo com uma única pessoa pelos próximos 50 anos de suas vidas, mas muitas pessoas não conseguem fazer isso. Isso não significa que o relacionamento de todos esteja condenado, mas sim que a traição pode ser uma parte comum dos relacionamentos das pessoas", concluiu o pesquisador.
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