O estresse, em maior ou menor intensidade, faz parte do dia a dia de qualquer pessoa. É um dos grandes males da vida moderna. Para lidar com esse desbalanço emocional, cada indivíduo adota uma estratégia. Por exemplo, muitos apostam no consumo de alimentos, as famosas comfort foods. "Hoje, comfort foods são definidas como qualquer alimento que, quando consumido em determinada situação, ocasiona conforto físico e psicológico", explica a médica nutróloga, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Marcella Garcez.
"As comfort foods são muito individuais, mas, em situações de estresse, é comum consumirmos uma maior quantidade de alimentos hipercalóricos para recuperarmos a energia gasta nesses momentos. No entanto, esse hábito pode ser extremamente prejudicial, pois, segundo estudo publicado em junho no períodico Neuron, a combinação entre estresse e alimentação hipercalórica gera mudanças no cérebro que aumentam o desejo por comida, especialmente doces e alimentos hiperpalatáveis, e favorecem o ganho de peso", reforça a especialista.
Para entender o mecanismo por trás desses hábitos alimentares, os pesquisadores do estudo investigaram como diferentes áreas do cérebro de camundongos reagem ao estresse sob várias dietas. Com isso, descobriram que, em animais estressados com uma dieta rica em gordura, a área do cérebro responsável por reduzir a resposta recompensatória do cérebro, chamada de habênula, permanece inativa.
"Com os sinais de recompensa relacionados à alimentação ativos, os camundongos foram encorajados a se alimentar por prazer, sem responder aos sinais de saciedade", detalha a nutróloga. Além disso, ao permitirem que os animais escolhessem entre água natural ou água adoçada artificialmente, os pesquisadores também observaram que os camundongos estressados com uma alimentação rica em gordura consumiram três vezes mais sucralose do que aqueles que, apesar da mesma dieta, não estavam sob estresse. "Isso sugere que o estresse, além de ativar o mecanismo de recompensa ao comer, também impulsiona o desejo por alimentos doces e saborosos, especificamente ", comenta.
Esses camundongos estressados em uma dieta gordurosa também apresentaram ganho de peso duas vezes maior do que os animais na mesma dieta, mas sem estresse. O motivo identificado foi uma molécula chamada de NPY. "NPY, ou neuropeptídeo Y, é um dos peptídeos mais abudandantes do sistema nervoso que está relacionado à ingestão de alimentos e tem seus níveis modulados pelo estresse", afirma Marcella. Quando os pesquisadores impediram que o NPY ativasse as células cerebrais da habênula, os camundongos estressados com uma dieta rica em gordura consumiram menos comfort foods, resultando em menor ganho de peso.
E o ganho de peso não é a única consequência dessa ingestão exagerada de alimentos hiperpalátaveis durante momentos de estresse. "O consumo excessivo e desequilibrado desses alimentos hiperpalatáveis, geralmente com grandes quantidades de açúcares e gorduras, pode causar desequilíbrios metabólicos e favorecer o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão, por exemplo", destaca a médica.
"Esse estudo enfatiza o impacto do estresse no metabolismo energético saudável. Além disso, destaca a importância de uma alimentação balanceada durante momentos estressantes", diz a especialista. O estudo reforça também a necessidade de buscar outras maneiras de lidar com o estresse além da alimentação. "Procure sair de uma rotina de estresse. Pratique exercicios físicos moderados e prazerosos, experimente atividades introspectivas, como yoga ou meditação, adote bons hábitos de sono e tenha momentos de lazer e espiritualidade. Tudo isso sem esquecer, é claro, da alimentação balanceada", aponta Marcella Garcez.
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Para entender o mecanismo por trás desses hábitos alimentares, os pesquisadores do estudo investigaram como diferentes áreas do cérebro de camundongos reagem ao estresse sob várias dietas. Com isso, descobriram que, em animais estressados com uma dieta rica em gordura, a área do cérebro responsável por reduzir a resposta recompensatória do cérebro, chamada de habênula, permanece inativa.
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