A primeira morte por gripe suína no Brasil em 2023 foi confirmada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na quarta-feira (21/06).
A gripe suína é causada pelo vírus influenza A (H1N1), que normalmente circula entre porcos e ocasionalmente pode infectar humanos.
A vítima, uma mulher de 42 anos, era moradora de Toledo, no Paraná, e segundo informações divulgadas pela Fiocruz, possuía diagnóstico de câncer - o que contribui para uma imunidade mais baixa e mais suscetível aos efeitos do vírus - e vivia próximo a uma fazenda de suínos.
Em nota técnica, a OMS (Organização Mundial da Saúde) descreve que, no momento, não há motivos para que o quadro represente risco de surto da doença.
"Com base nas informações atualmente disponíveis, a OMS considera este um caso esporádico, sem evidências de transmissão pessoa a pessoa. A probabilidade de disseminação em nível comunitário entre humanos e/ou disseminação internacional da doença entre humanos é baixa."
A nota da OMS também aponta que, embora a vítima não tivesse contato direto com os animais, dois de seus contatos próximos da vítima trabalhavam na fazenda de suínos.
"Os dois contatos não desenvolveram doença respiratória e testaram negativo para influenza. Até o momento, nenhuma transmissão de humano para humano associada a este caso foi identificada."
Em nota enviada à CNN americana, Kathleen Conley, porta-voz do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), afirmou que o órgão vai testar amostras da brasileira para confirmar a infecção e para verificar se houve mutações em relação a casos anteriores que possam ter tornado o vírus mais transmissível ou perigoso.
"A prioridade nº1 do CDC é confirmar se a paciente foi infectada com o vírus influenza A (H1N1)", disse Conley à CNN. "Se o isolamento do vírus for bem sucedido, pode ser conduzido um maior detalhamento virológico."
O quadro clínico da vítima
A Fiocruz relata que, no dia 1º de maio, a moradora de Toledo apresentou febre, dor de cabeça, dor de garganta e dor abdominal. Dois dias depois, o quadro evoluiu para infecção respiratória aguda grave e ela precisou ser internada.
No dia 4, a paciente foi transferida para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu e faleceu no dia seguinte.
A confirmação do diagnóstico ocorreu por meio de amostra de swab nasofaríngeo coletada durante a internação. O exame, realizado pelo LACEN (Laboratório Central de Saúde Pública) do Paraná, detectou que se tratava de um vírus influenza A/H1.
Foi confirmado, então, que se tratava de um vírus influenza A(H1N1) com alta taxa de identidade com vírus coletados de suínos no Brasil em 2015.
Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, explica que as características de saúde da mulher a tornaria mais suscetível a efeitos do vírus.
"Só o fato de ser uma paciente oncológica já indica debilidade no sistema imunológico. Se esse mesmo vírus causaria efeitos graves em uma pessoa que é imunocompetente [sem doenças que prejudicam a imunidade], é algo que não sabemos."
As formas de transmissão da gripe suína e seus efeitos no organismo
Quando seres humanos estão infectados com vírus influenza que normalmente circula entre porcos, esse vírus é chamado de "vírus variante" e é designado pela letra "v". No caso em questão, influenza A(H1N1)v.
Os vírus H1N1, H1N2 e H3N2 de origem suína ocasionalmente infectam humanos, geralmente após exposição direta ou indireta a suínos ou ambientes contaminados.
De acordo com a Fiocruz, esta é a primeira infecção humana causada pelo vírus influenza A(H1N1)v relatada em 2023 no Brasil, e a terceira infecção humana relatada no estado do Paraná (a primeira foi em 2021 e a segunda, em 2022).
Conforme explica Granato, o fato de os seres humanos fazerem parte do grupo de mamíferos - assim como os porcos - contribui para uma transmissão direta.
"Esse vírus pode passar para o ser humano com uma certa facilidade, diferentemente da gripe aviária, que é muito mais difícil por se tratar de uma espécie com características biológicas mais distintas das nossas."
A transmissão, explica o médico, é feita principalmente por meio de gotículas infectadas lançadas no ar, e eventualmente pelo contato com as fezes dos animais.
"Mas a carne suína, cozida ou frita, já não tem mais vírus ativo. O maior risco é para os cuidadores desses porcos, que têm um contato direto."
Os sintomas da infecção se assemelham aos causados por outras infecções respiratórias: incluem coriza, dor de garganta, tosse, dificuldade para respirar.
"A variante suína, inclusive, costuma resultar em sintomas mais brandos para humanos. No entanto, pessoas de grupos de risco, como idosos, crianças pequenas [nas quais o sistema ainda não está totalmente completo], e pessoas com comorbidades, como era o caso da paciente que faleceu, têm maiores probabilidades de quadros graves", explica Vanessa Strelow, médica infectologista do Hospital São Vicente, em Curitiba, no Paraná.
Para um diagnóstico preciso, Strelow reforça a importância do exame PCR (feito por swab nasal), que é capaz de determinar por qual vírus a pessoa foi infectada.
"Esse cuidado dos profissionais de saúde ao notar os sintomas é essencial, já que um teste rápido não detectaria. Temos uma boa vigilância no Brasil, que acompanha constantemente o comportamento e presença dos vírus nos territórios e nos permite saber do que se trata quando há um caso fora da curva, como foi este de gripe suína."
Não há uma vacina específica que proteja contra a gripe suína. A vacina Influenza trivalente, oferecida gratuitamente nas unidades de saúde, é atualizada todos os anos considerando as cepas mais prevalentes.
A versão de 2023 é composta por duas cepas do vírus influenza A (H1N1 e H3N2) e por uma cepa do tipo B (linhagem Victoria).
"Não vai proteger contra todas as gripes suínas, mas já é um grande passo estar imunizado contra os vírus que temos mais risco de entrar em contato", diz Granato.
Em caso confirmado de infecção por gripe suína, explica o médico, o melhor é começar a tratar logo, antes que o vírus se espalhe pelo corpo.
"Uma boa notícia é que as cepas do vírus da gripe têm sido combatidos com relativa facilidade com uma droga genérica que surgiu em 2009 e mudou o quadro da doença - o fosfato de oseltamivir [disponível na farmácia popular]."