A psoríase é uma doença autoimune que provoca inflamações escamosas, coceira e manchas secas na pele. Pouco se sabe, porém, como a enfermidade que acomete mais de 125 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da National Psoriasis Foundation, se espalha pelo corpo. Descobertas feitas por pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine, nos Estados Unidos, poderão ajudar nesse sentido. A equipe mapeou as características ocultas da inflamação, chegando a mecanismos que podem explicar o que impulsiona a gravidade da psoríase e colaborar no desenvolvimento de tratamentos e intervenções mais eficazes.
Publicados, neste mês, na revista Science Immunology, os resultados da pesquisa sugerem que formas leves e graves de psoríase podem ser diferenciadas pela dinâmica de atividades de células do sistema imune. A localização de aglomerados de estruturas de defesa chamadas fibroblastos, que são reguladores de inflamação, juntamente com os macrófagos, um tipo de glóbulo branco, variava e era mais comum nas camadas superiores da pele de pessoas com casos mais graves da doença.
"Nosso objetivo inicial era encontrar sinais moleculares mensuráveis que pudessem nos dizer quem tem maior probabilidade de desenvolver psoríase grave, bem como quem tem maior risco de desenvolver distúrbios relacionados que, geralmente, acompanham a doença, como artrite e complicações cardiovasculares", explica, em nota, Jose Scher, um dos investigadores do estudo.
Para a pesquisa, a equipe recorreu à técnica de transcriptômica espacial, que mapeia detalhadamente as interações moleculares e celulares que ocorrem em um tecido específico. Foram analisadas amostras de pele intacta de 11 pacientes, homens e mulheres, com casos leves a graves de psoríase e de três adultos saudáveis. Os resultados demonstraram, entre outras diferenciações, concentrações dos aglomerados nas partes superiores da pele acometida por quadros críticos.
Fernanda Simões Resende, dermatologista do Hospital Anchieta, explica que as células responsáveis pela defesa do corpo humano promovem a dilatação dos vasos sanguíneos, e substâncias inflamatórias se dirigem com outras células do sistema de defesa, como neutrófilos e macrófagos, para a pele, o que agrava a doença. "Essa cascata inflamatória geralmente é quebrada com o tratamento. Por isso, a primeira coisa a se fazer é classificar o paciente em relação ao grau da psoríase."
Jose Scher, integrante do grupo de pesquisa, afirma, em nota, que o trabalho vai além das ferramentas de diagnóstico disponíveis porque não se concentra em sinais visíveis de lesões cutâneas. Considera efeitos sistêmicos e moleculares invisíveis. " Embora muitas terapias disponíveis, incluindo esteróides e drogas imunossupressoras, reduzam a inflamação e os sintomas, elas não abordam as causas subjacentes da doença", afirma o texto.
Novas terapias
Débora Vilela Cunha, dermatologista do Hospital Brasília, da rede Dasa, conta que a psoríase é entendida como uma desregulação das células presentes na pele. Porém, novos estudos, como o da NYU Grossman, trazem indícios de que se trata de uma doença imunomediada complexa, na qual células do sistema de defesa desempenham um papel central para um problema sistêmico. As descobertas, avalia, poderão ajudar em novas formas de enfrentamento. "Muitos agentes terapêuticos novos e emergentes visam aspectos imunológicos específicos da doença psoriática", explica.
Darleny Costa, dermatologista da Clínica Costa Daher, em Brasília, considera que os resultados da pesquisa também poderão ajudar no desenvolvimento de intervenções mais personalizadas. "Essas pesquisas direcionam para investigações mais específicas sobre a resposta imunológica de diferentes perfis de pacientes, o que, futuramente, permitirá realizar tratamentos mais específicos e eficazes para cada um", diz.
A equipe planeja identificar os mecanismos biológicos envolvidos na inflamação da pele em locais específicos e de que forma isso se dissemina. "Tendo encontrado sinais com possíveis consequências sistêmicas, estamos, agora, trabalhando para entender como a inflamação da pele pode levar a doenças generalizadas que afetam outros órgãos", diz Scher. O grupo planeja também realizar pesquisas na pele, com e sem lesões, de um grupo maior de voluntários para determinar como a doença desaparece sozinha em alguns casos e por que há respostas distintas aos mesmos medicamentos anti-inflamatórios.
*Estagiária sob a supervisão de Carmen Souza