Chicago — Começou, nesta quinta-feira (2/6), o maior congresso de oncologia do mundo. A reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês) reúne especialistas e pesquisadores de câncer no Centro de Convenções McCormick Place, em Chicago, Estados Unidos. Um dos estudos divulgados no primeiro dia do evento mostra resultados do uso de ribociclibe — um medicamento que atua como inibidor das enzimas CDK4/6, causadoras mais comuns das células cancerosas — em pacientes diagnosticados em estágio inicial da doença que, após tratamento, apresentam risco de recidiva (ou seja, o retorno da atividade da doença).
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O Comitê Independente de Monitoramento de Dados do estudo recomendou encerrá-lo mais cedo, pois o objetivo primário que era a sobrevida livre de doença invasiva (ILDi) foi alcançado. A pesquisa avalia a administração de ribociclibe, um medicamento administrado por via oral, combinado à terapia endócrina, e mostrou a redução de até 25% de recidiva da doença a depender do diagnóstico.
O ribociclibe é usado atualmente no tratamento de câncer de mama metastático — fase em que a doença se espalha pelo corpo e tem maior letalidade. A possibilidade de expandir o uso para outras fases da doença tem entre os objetivos a melhora da qualidade de vida das pacientes, com efeitos adversos do tratamento mais brandos. Mais de 90% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama no mundo estão em estágios iniciais. O risco de recidiva nessas situações atinge o pico nos primeiros três anos após o diagnóstico inicial. Para muitas dessas pacientes não há opções terapêuticas direcionadas além da quimioterapia padrão e da terapia endócrina.
Estudo global ajuda no avanço dos tratamentos contra o câncer
Os resultados da pesquisa sobre o tratamento de câncer de mama em estágio inicial foram alcançados a partir do estudo global Natalee, da farmacêutica Novartis. É um estudo multicêntrico (ocorre de forma simultânea por meio de um mesmo protocolo e em diversas instituições); randomizado (com seleção aleatória de participantes); e aberto de fase 3 (penúltima fase de uma pesquisa clínica, que acompanha milhares de pacientes e tem como objetivo obter informações sobre segurança, eficácia e interação de drogas). Os resultados do Natalee são apresentados em reuniões médicas e científicas e submetidos às autoridades reguladoras em todo o mundo.
Como o câncer de mama surge?
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama, formando um tumor. É a genética do tumor que define o tipo de câncer de mama. Os receptores hormonais (RH) e o receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2) são proteínas importantes e definem os quatro principais tipos de câncer de mama. Mais de 90% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama estão em estágios iniciais.
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos de
câncer em mulheres. É também a causa mais frequente de morte por câncer nessa população.
No Brasil, o câncer de mama feminina é o segundo tipo com maior incidência (10,5%), atrás apenas do tumor de pele não melanoma (31,3%). O dado é da Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil, lançada em 2022 pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). O estudo também estima que, até 2025, 74 mil novos casos da doença devam surgir no país.
Regulamentação para o uso em estágio inicial
Todo novo tratamento para qualquer tipo de doença precisa de aprovação pelos órgãos locais. A Novartis informou à imprensa que planeja enviar os dados da fase 3 do estudo às autoridades regulatórias nos Estados Unidos e na Europa ainda em 2023, para a aprovação do uso do medicamento Kisqali no tratamento do câncer de mama em estágio inicial.
No caso do Brasil, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (Conitec) é a responsável por avaliar os tratamentos ofertados na rede pública, e a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) abrange as autorizações para os planos de saúde.
Em fevereiro de 2021, a classe de medicamentos inibidores de ciclinas — como o ribociclibe — foi incorporada ao rol da ANS para o tratamento de pacientes com câncer de mama localmente avançado ou metastático. A Conitec seguiu o mesmo caminho em dezembro, mas o tratamento ainda não foi disponibilizado pelo Ministério da Saúde para todo o Sistema Único de Saúde.
*A jornalista viajou a convite da Novartis