CIÊNCIA

Remédio para Parkinson pode retardar avanço da ELA por seis meses

CEm ensaio clínico, voluntários que receberam o ropinirol apresentaram taxas mais lentas de declínio em mobilidade, força muscular e função pulmonar durante, em média, aproximadamente, 27,9 semanas

Cientistas japoneses descobriram que o medicamento ropinirol, usado no tratamento de Parkinson, pode desacelerar a esclerose lateral amiotrófica (ELA), que causa degeneração progressiva do sistema nervoso e paralisia irreversível. Segundo a pesquisa, publicada, ontem, na revista Cell Stem Cell, a substância é eficaz para retardar a evolução da doença por seis meses. Atualmente não há cura para ELA, as abordagens terapêuticas disponíveis focam na redução de sintomas e no fornecimento de suporte aos pacientes.

No ensaio clínico, a equipe avaliou a segurança e o funcionamento do ropinirol em voluntários com ELA esporádica, que não é de origem familiar. O grupo selecionou 20 pacientes atendidos no Keio University Hospital, no Japão. Nenhum deles tinha genes que os predispunha à doença e, em média, viviam com a doença havia 20 meses.

Durante o teste, verificou-se que o medicamento atrasou a progressão da patologia em, aproximadamente, 27,9 semanas. "Descobrimos que o ropinirol é seguro e tolerável para pacientes com ELA e mostra uma promessa terapêutica para ajudá-los a manter a atividade diária e a força muscular", enfatiza, em nota, o autor principal do estudo, Satoru Morimoto.

Mais ativos

Os testes duraram 48 semanas. Nas primeiras 24, pacientes e médicos não sabiam quem estava tomando ropinirol e quem havia recebido um placebo. Nas seguintes, todos os que permaneceram no ensaio receberam o medicamento e foram observados por mais quatro semanas.

Aqueles que receberam o medicamento durante as duas fases do ensaio foram mais fisicamente ativos do que os do grupo placebo, além de mostraram taxas mais lentas de declínio em mobilidade, força muscular e função pulmonar. Para os autores, a diferença indica que a intervenção com ropinirol funcione se iniciada mais cedo e administrada por um período mais longo. Um novo ensaio, previsto para um "futuro próximo", poderá ajudar a responder a essa e outras questões.

Na avaliação do psiquiatra Luan Diego Marques, pesquisador do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), o fato de as doenças compartilharem alguns mecanismos de neurodegeneração pode explicar os efeitos observados. "O estudo sugere que o ropinirol pode ajudar a normalizar as células neurais dos pacientes com ELA, reduzindo diferenças estruturais e os danos genéticos em comparação com neurônios saudáveis", afirma.