Febre Maculosa

Diagnóstico tardio da febre maculosa aumenta a letalidade; entenda a doença

Especialista explica os riscos ao ser picado pelo carrapato-estrela e alerta que capivaras são os principais reservatórios naturais da doença

André Vinícius Pereira*
postado em 14/06/2023 18:48
 (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
(crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

As quatro mortes em Campinas (SP) por febre maculosa, neste mês, acendem alerta para uma doença com alto grau de letalidade, principalmente em casos de diagnóstico tardio. Mais comum em áreas rurais, a doença é transmitida pelo carrapato-estrela infectado com a bactéria Ricketsiia rickettsi.

De acordo com o infectologista Victor Bertollo, do Hospital Anchieta de Brasília/Kora Saúde, apesar de rara, a febre maculosa apresenta alta taxa de letalidade, em virtude da dificuldade da detecção precoce. “O desafio em diagnosticar a febre maculosa está no fato de, na fase inicial, os sintomas da doença se assemelharem a várias outras que são muito mais comuns, como dengue, outras arboviroses, leptospirose, que tem como sintomas febre, dor no corpo. Ela somente começa a ficar evidente na forma mais grave, quando a pessoa começa a ter manchas de hemorragia pela pele” .

Outro fato que dificulta a detecção da doença está relacionado ao período de incubação, que leva de dois a 14 dias, com a manifestação dos sintomas ocorrendo, em média, em 7 dias. Esse período dificulta que os doentes façam a correlação entre os sintomas e ter estado em locais com a presença de carrapatos. Por isso, desconfiar de febre maculosa é pouco provável, retardando ainda mais o diagnóstico.

Bertollo lembra ainda que a predominância de casos da febre maculosa, bem como do número de óbitos que, segundo o médico, estão entre 40 e 60 casos em média por ano, estão mais concentrados na região Sudeste.

Como se prevenir da febre maculosa 

A única forma de se prevenir o contágio é evitando o contato com o carrapato. Por isso, Bertollo dá algumas dicas de como se preparar para a exposição a locais com mato alto, vegetação densa e, principalmente a presença de capivaras e outros animais, inclusive domésticos, nos quais você não tenha tido contato anteriormente.

O infectologista lembra que ambientes com densa vegetação escondem carrapatos, em especial onde transitam capivaras, reservatório natural do carrapato-estrela. “Os filhotes de capivara são particularmente os mais suscetíveis à infecção por Ricketsiia rickettsii. Eles infectam os carrapatos que, posteriormente infectam os humanos”.

“Se for andar em regiões de mata, evite locais de grama alta; tente usar roupas claras porque fica mais fácil visualizar o carrapato; use roupas de manga comprida, calça comprida para tampar a pele para evitar o contato com o carrapato; use sapatos de cano alto e calçados fechados; sempre inspecione o corpo em busca do parasita e, se encontrar, retire com pinça, sem tocá-lo ou esmagá-lo e limpar o local com água e sabão”.

Além disso usar repelentes que possuam proteção contra carrapatos, administrar remédio antiparasitário nos animais domésticos ajuda a evitar o contato.

Como é o tratamento para a febre maculosa

Embora não exista uma vacina contra a febre maculosa, há cura para a doença, desde que a pessoa precocemente diagnosticada receba tratamento medicamentoso com antibiótico específico. Outro destaque importante é que a doença não é transmitida de uma pessoa a outra, somente pelo contato com o parasita.

"É importante que os indivíduos que estiveram em zonas que tenham as características anteriormente citadas e que apresentem febre com manchas no corpo, que procurem os serviços de saúde e comentem essa exposição, para que o médico avalie se ali há uma hipótese possível ou não e iniciar o tratamento o quanto antes possível”, pondera o especialista.

*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori

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