A febre maculosa, também conhecida como febre do carrapato, é uma doença infecciosa aguda causada por uma bactéria e transmitida ao ser humano pela picada de carrapatos. Nesta segunda-feira (12/6), a morte da dentista Mariana Giordano, de 36 anos, foi confirmada pelo Instituto Adolfo Lutz como tendo sido provocada pela doença. O namorado dela, o piloto de automobilismo Douglas Costa, de 42 anos, também morreu, mas a amostra dele ainda não teve o resultado concluído.
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A doença é denominada como "maculosa" pois causa manchas vermelhas no corpo do paciente, chamadas de máculas. Segundo o médico Vital Fernandes Araújo, formado pela Universidade Federal da Bahia, a febre maculosa é considerada grave e pode levar à morte se não for tratada a tempo. O profissional ressalta que, apesar da gravidade, a doença não é transmissível de pessoa para pessoa.
Formas de transmissão
Vital Fernandes explica que os carrapatos se infectam quando se alimentam do sangue de animais contaminados com a bactéria, como capivaras, cavalos e alguns tipos de aves. Após a infecção, o carrapato se torna um vetor da doença, ou seja, um organismo capaz de transmitir a bactéria para outros animais ou seres humanos, no momento em que se alimentar do seu sangue.
"Geralmente, os carrapatos precisam estar presos ao corpo do hospedeiro por um certo período de tempo, geralmente 4 a 6 horas, para transmitir a bactéria com sucesso. Desta forma, uma rápida identificação e remoção do carrapato pode prevenir a infecção", explica o médico.
Sintomas
O profissional alerta que a doença causa os seguintes sintomas:
- Febre alta, que geralmente é um dos primeiros sinais e pode ser bastante alta, chegando a 40ºC ou mais;
- Dor de cabeça, que geralmente é intensa e pode ser acompanhada por sensibilidade à luz;
- Dores musculares, especialmente nas grandes articulações;
- Mal-estar, sensação geral de desconforto e fadiga;
- Náuseas e vômitos, que podem ocorrer especialmente nos estágios iniciais da doença;
- Erupção cutânea, cerca de 2 a 5 dias após o início da febre. Ela começa nas palmas das mãos e solas dos pés, e pode se espalhar pelo restante do corpo. As manchas são pequenas, planas, de cor rosa e não coçam.
Vital acrescenta que, com a progressão da doença, os sintomas podem evoluir para formas mais graves, causando problemas como: insuficiência respiratória, danos ao sistema nervoso central, insuficiência renal e, em casos extremos, a morte.
"É importante lembrar que se você apresentar esses sintomas e tiver estado em uma área onde possa ter sido exposto a carrapatos, deve procurar atendimento médico imediatamente. A febre maculosa é uma doença grave que precisa ser tratada rapidamente para evitar complicações", destaca o médico.
Diagnóstico
O diagnóstico da febre maculosa é feito com base nos sintomas clínicos e no histórico do paciente, principalmente em caso de exposição a áreas de risco para a presença de carrapatos. Vital Fernandes explica que também existem exames laboratoriais que podem ajudar a confirmar o diagnóstico.
"O mais comum é o teste de anticorpos contra a Rickettsia rickettsii, que é o agente causador da febre maculosa. Este teste é chamado de reação de imunofluorescência indireta (RIFI). Entretanto, é importante destacar que esses anticorpos geralmente só são detectáveis cerca de uma semana após o início dos sintomas", explica.
Outros testes laboratoriais incluem exames de sangue para verificar se há alterações comuns em casos de febre maculosa como: baixa contagem de plaquetas, baixo nível de sódio no sangue e elevação de algumas enzimas hepáticas.
O médico ressalta, ainda, que em alguns casos pode ser realizada a identificação da bactéria por meio de técnicas de biologia molecular, como a PCR (reação em cadeia da polimerase). Porém, esses exames são mais complexos e não estão disponíveis em todos os laboratórios.
"É importante lembrar que, devido à gravidade da doença, o tratamento geralmente é iniciado com base na suspeita clínica, sem esperar a confirmação laboratorial, já que o atraso no início do tratamento pode ter sérias consequências", afirma.
Tratamento
O tratamento da febre maculosa é feito com antibióticos específicos, prescritos por um período de sete a 14 dias, a depender da gravidade da doença. O uso do medicamento deve ser iniciado o mais rápido possível após o início dos sintomas.
"Nos casos mais graves, o paciente pode necessitar de internação hospitalar para monitoramento e suporte das funções vitais, como respiração e pressão arterial. Nos casos mais leves, o tratamento pode ser realizado em ambulatório, sempre com acompanhamento médico", explica Vital.
Como prevenir
Vital Fernandes cita os seguintes meios para se prevenir contra a febre maculosa:
- Evite áreas infestadas por carrapatos. "Carrapatos são mais comuns em áreas com vegetação densa, como matas e pastagens, especialmente onde há presença de animais selvagens ou domésticos. Se você precisa visitar essas áreas, use roupas adequadas e repelente."
- Use roupas adequadas. "Quando estiver em áreas onde carrapatos são comuns, use roupas de cor clara (para facilitar a visualização dos carrapatos), de manga longa e calça comprida. Coloque as barras das calças para dentro das meias e use botas de cano longo."
- Use repelentes. "Use repelentes que contenham DEET (composto químico) ou outro componente eficaz contra carrapatos. Aplique o repelente tanto na pele quanto nas roupas."
- Verifique o corpo. "Após sair de uma área com potencial presença de carrapatos, verifique o corpo inteiro. Carrapatos gostam de áreas quentes e protegidas, portanto, não se esqueça de verificar locais como: axilas, virilha, atrás das orelhas e o couro cabeludo."
- Mantenha o jardim limpo. "Em áreas urbanas, evite o acúmulo de folhas secas e mantenha a grama cortada. Isso ajuda a reduzir o habitat favorável para os carrapatos."
- Cuidado com animais domésticos. "Se você tem animais de estimação em locais de risco, especialmente cães, faça um controle regular de carrapatos neles com produtos apropriados. Cães podem trazer carrapatos para dentro de casa, aumentando o risco de infecção."
Casos recentes no Brasil
Mariana e Douglas teriam visitado duas áreas rurais de Campinas, no interior do estado, além de Monte Verde, em Minas Gerais. Após o passeio, eles passaram a ter sintomas de febre, manchas avermelhadas pelo corpo e dores no dia 3 de junho e faleceram cinco dias depois.
Em abril, um homem de 54 anos morreu vítima da doença, na Zona da Mata, em Minas Gerais. Segundo a Prefeitura de Manhuaçu, o homem era morador do Bairro Nossa Senhora Aparecida e tinha comorbidades, como diabetes, hipertensão e cardiopatia. Antes do óbito, ele relatou ter tido contato com áreas com presença de carrapatos, como o bairro Ponte da Aldeia e Bom Pastor, ambas próximas ao rio.
No interior de São Paulo, a doença passou a ser detectada a partir da década de 1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba, Assis, em áreas mais periféricas da região metropolitana do estado e no litoral. Em 2023, foram registrados nove casos de febre maculosa e três óbitos.
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