Sinais de relação com a fadiga crônica

» Paloma Oliveto
postado em 25/06/2023 06:01
Falha imunológica ligada a bactérias levaria a sintoma da covid longa -  (crédito: PIERRE-PHILIPPE MARCOU)
Falha imunológica ligada a bactérias levaria a sintoma da covid longa - (crédito: PIERRE-PHILIPPE MARCOU)

Condição desafiadora, a encefalomielite miálgica/síndrome de fadiga crônica (EM/SFC) foi alvo de bastante atenção nos últimos três anos por ser um dos sintomas da covid longa, quando pessoas que foram infectadas pelo coronavírus sofrem de efeitos colaterais por muitos meses. Alguns indivíduos, porém, têm a condição de forma crônica, com poucas opções de tratamento. Dois estudos publicados na revista Cell Host & Microbe descobriram que o problema está associado a níveis reduzidos no trato gastrointestinal de micro-organismos que produzem butirato e ácido graxo. A consequência disso seria uma alteração no sistema imunológico.

Um dos estudos, do instituto de pesquisa Jackson Laboratory, nos Estados Unidos, mostrou que os pacientes com doença de curto prazo sofriam diversas alterações no microbioma em relação à diversidade. Já os com doença crônica apresentavam uma flora intestinal mais semelhante aos controles saudáveis. Porém, acumulavam uma série de alterações nos metabólitos no plasma sanguíneo — muitas delas associadas ao sistema imunológico.

A outra pesquisa, da Universidade de Columbia, também nos Estados Unidos, usou um tipo de sequenciamento metagenômico para comparar o microbioma de 106 pacientes de EM/SFC e 91 voluntários saudáveis. Também foi avaliada a população de micro-organismos nas fezes. O resultado detectou relações significativas entre a gravidade dos sintomas de fadiga e os níveis de espécies específicas de bactérias intestinais — em particular, a bactéria produtora de butirato Faecalibacterium prausnitzii.

"Estudos longitudinais fornecerão clareza sobre quando ocorrem mudanças na composição e na função do microbioma. As terapias direcionadas, como o transplante de micróbios fecais, nos permitirão entender se a restauração de um microbioma saudável é um benefício clínico em pacientes com EM/SFC, o que indicaria uma relação causal entre o microbioma e a patogênese da doença", avalia Katharine Seton, cientista de pesquisa em micróbios intestinais em enfermidades no Instituto Quadram, no Reino Unido.

Longevidade

Também está sob investigação o papel da microbiota na longevidade. Katharine Seton é coautora de um estudo que, feito em camundongos, sugere que o transplante da flora de animais jovens para idosos pode melhorar danos provocados pelo envelhecimento no intestino, nos olhos e no cérebro. No experimento inverso, os autores transplantaram fezes dos animais velhos, e o resultado foram inflamações em receptores cerebrais associados à visão nas cobaias mais novas. Os resultados foram publicados na revista Microbiome.

"Essas descobertas mostram que os micróbios intestinais desempenham um papel na regulação de alguns dos efeitos prejudiciais do envelhecimento e abrem a possibilidade de terapias baseadas em micróbios intestinais para combater o declínio na vida adulta", diz Rubens de Fraga Júnior, professor de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná e especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. (PO)

 

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