A prática de atividade física, independentemente do horário, faz parte da lista de recomendações para o controle do diabetes tipo 2, doença que atinge mais de 500 milhões de pessoas no mundo. Cientistas do Brigham and Women's Hospital e do Joslin Diabetes Center, ambos nos Estados Unidos, decidiram investigar se seria possível potencializar essa medida de cuidado. Descobriram que pacientes que são fisicamente ativos durante as tardes mostram redução de até 50% nos níveis de açúcar no sangue, comparados àqueles que fazem exercícios em outros momentos do dia.
O estudo, publicado nesta quinta-feira (25/5) na revista Diabetes Care, é o primeiro em grande escala a demonstrar que o período de atividade física está associado à melhora a longo prazo da glicemia. "Descobrimos que os pacientes com diabetes tipo 2 tiveram a maior redução quando realizaram atividade física moderada a vigorosa principalmente à tarde. Essa associação é independente do volume e da intensidade da atividade física média", detalha Jingyi Qian, da Divisão de Distúrbios do Sono e Circadiano do Brigham and Women's Hospital e líder do estudo.
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Os cientistas analisaram informações sobre a prática de atividade física de mais de 2,4 mil pessoas. Os voluntários utilizaram um dispositivo na cintura para medir o ritmo dos exercícios. Ao avaliar os dados colhidos no primeiro ano, observou-se que aqueles que faziam exercícios moderados ou vigorosos à tarde apresentavam uma redução de glicose no sangue entre 30% e 50% maior do que quem malhava em outros horários. Níveis elevados de glicose no sangue podem colocar pessoas com diabetes tipo 2 em risco de doença cardíaca, deficiência visual e complicações renais.
Segundo o artigo, ao verificar as informações do quarto ano da pesquisa, a equipe detectou que o grupo dos exercícios vespertinos manteve o mesmo desempenho. Além disso, apresentou maior chance de interromper o uso de medicamentos para baixar o açúcar e controlar o diabetes. A diminuição da glicose foi medida pelos níveis de hemoglobina glicada, naturalmente presente no corpo e útil na identificação de altas quantidades de glicemia durante períodos mais longos.
Qian conta que há algumas hipóteses para a redução notada. Uma delas está ligada ao ciclo circadiano, que regula muitas funções fisiológicas no corpo. Acredita-se que o popular relógio biológico pode influenciar os benefícios da atividade física de acordo com o horário da prática. Há também, possivelmente, fatores comportamentais, como jejum e ciclos do sono. "Por exemplo, o exercício pós-refeição, que ocorre com mais frequência depois do almoço no grupo da tarde, é uma estratégia eficaz para controlar as excursões de glicose pós-prandial (realizada uma ou duas horas após uma refeição) no diabetes tipo 2", explica o pesquisador.
Endocrinologista do Hospital Brasília, Daniela Gomes Gebrim indica quais pacientes poderiam ser mais beneficiados com a escolha do horário para se exercitar. "O estudo em questão mostra melhora dos níveis glicêmicos quando o exercício é feito durante a tarde, e essa estratégia pode ser usada se o paciente tiver glicemia de jejum mais alta, por exemplo", afirma a médica, ressaltando, em seguida, que o mais importante é não ficar parado. "O exercício físico pode vir recomendado por escrito juntamente com os medicamentos e associado a orientação nutricional."
Terapias personalizadas
Apesar dos resultados observados, os estudiosos apontam que a pesquisa tem limitações. Qian explica que, por ser um estudo observacional, fatores como sono e tipo de alimentação não foram levados em consideração na análise. "Em próximos trabalhos, planejamos testar nossas descobertas experimentalmente para investigar os mecanismos subjacentes que podem explicar por que a hora da atividade pode influenciar o controle da glicose no sangue", diz.
Coautor do estudo, Roeland Middelbeek, do Joslin Diabetes Center, acredita na possibilidade de as descobertas ajudarem nos avanços de abordagens mais eficazes contra o diabetes. "O tempo parece importar. No futuro, podemos ter mais dados e evidências experimentais para fornecer recomendações mais personalizadas aos pacientes", indica, em nota. Os autores lembram que a associação não foi averiguada em pessoas com diabetes tipo 1, porque, nesse caso, os indivíduos têm preocupações diferentes, como a hipoglicemia, quando se trata de exercícios.
Ainda assim, segundo Érika Fernanda de Faria, endocrinologista do Hospital Santa Lúcia Norte, de Brasília, praticar as atividades físicas é importante. "Elas ajudam ambos os tipos de diabetes. Tudo depende do exercício. Essa questão de saber qual o melhor horário e qual o mais adequado é muito bom para estabelecermos metas e orientações mais específicas para a manutenção dos índices glicêmicos", avalia.