O chamado “chip da beleza” ganhou notoriedade na mídia após ser indicado por diversas influenciadoras digitais. O dispositivo chama a atenção pelas promessas de acabar com os incômodos que vem com a menstruação, como cólicas e TPM, aumentar a libido e até mesmo tonificar os músculos. No entanto, desde o mês de abril o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu a indicação da terapia hormonal devido aos riscos para os usuários — o que não impediu o uso irregular no país.
O chip da beleza costuma ser confundido com outra terapia hormonal com implante semelhante, mas com efeitos diferentes, o Implanon. Por isso, o Correio conversou com uma especialista para saber as semelhanças e diferenças nos dois produtos, além de listar os riscos no uso.
A ginecologista e obstetra Marcelle Domingues Thimoti explica que a diferença nos dispositivos é o tipo de hormônio presente em cada um deles. “Apesar de ambos serem progestágenos, a Gestrinona (presente no chip da beleza) tem atuação muito semelhante à testosterona, com efeitos anabolizantes. Inclusive, alguns países proíbem o uso da gestrinona. Esse hormônio não é considerado como método contraceptivo. Outro fato fundamental é que o "chip da beleza" é manipulado e, portanto, não passa por nenhum critério de controle. Por ser manipulado, ainda é comum que no dispositivo sejam adicionadas outras substâncias, como testosterona, estradiol, e outros hormônios”, explica a profissional de saúde.
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Implanon
Implanon é um método contraceptivo de longa duração, num pequeno dispositivo flexível do tamanho de um palito de fósforo, que contém o hormônio etonogestrel, um progestágeno (derivado da progesterona) cuja função é prevenir a gestação. “Dentre os prós em relação ao uso, o método é altamente eficaz na prevenção da gravidez, sendo o método contraceptivo mais eficaz disponível no mercado. Apenas 5 num grupo de 10 mil mulheres engravidam por ano usando o método. Por ser um método de longa duração, o implante pode durar até três anos, o que significa que você não precisa se preocupar com a contracepção diária ou mensal, sendo uma opção de baixa manutenção”, pontua a ginecologista Marcelle.
Entre outras questões, é importante pontuar que o método é reversível e se a pessoa quiser tirar antes do prazo, basta buscar um profissional da saúde para que o dispositivo seja removido, sem qualquer comprometimento da fertilidade. A redução/cessação do fluxo menstrual e das cólicas são algumas características positivas que conquistam muitas pacientes. Entretanto, algumas mulheres podem experimentar efeitos colaterais, como alterações no padrão menstrual e sangramento irregular.
Chip de Beleza
Em relação ao dispositivo usado para fins estéticos, a médica explica que “chip da beleza não existe”. Trata-se de um implante hormonal à base de gestrinona. “A gestrinona é um progestágeno que tem atividade andrógina, isto é, acarreta em aumento de hormônios de características masculinas. Justamente por essa afinidade veio o nome de chip da beleza. A gestrinona é um hormônio indicado para tratamento de doenças como endometriose”, explica Domingues.
Dentre os prós, estão aumento de massa muscular, controle de sintomas relacionados à endometriose. “Dentre os contras do uso da gestrinona também se correlacionam aos efeitos androgênicos, como masculinização do corpo da mulher, ganho de peso, aumento do clitóris, masculinização da voz, inchaço, aumento dos pelos, acne, queda de cabelo, ressecamento vaginal, alterações de humor como irritabilidade, além de efeitos mais graves como mudança no perfil lipídico, comprometimento cardiovascular, aumento de acidentes tromboembólicos, acidentes vasculares cerebrais”, alerta a médica.
Quando devem ser utilizados
“O chip da beleza teve sua comercialização proibida pelo Conselho Federal de Medicina. Desde o mês de abril está proibida a prescrição de hormônios com fins estéticos. Mais especificamente sobre a gestrinona, a sociedade médica entende que os riscos não superam os benefícios, e há preocupações relacionadas à segurança e eficácia do medicamento, bem como à falta de evidências científicas adequadas para apoiar seu uso em condições específicas. A gestrinona não possui registro e autorização para comercialização no Brasil”, pontua a médica.
Já o Implanon, é indicado para as pacientes que desejam um método contraceptivo de longa duração - no caso do Implanon, são 3 anos. “Consideramos a indicação do Implanon principalmente para pacientes que tenham fluxo menstrual exacerbado, quadros de cólica intensos”, sugere a especialista. Vale destacar que o método é reconhecido pela Anvisa, além de órgãos internacionais como FDA e a OMS.