Três perguntas para...

Lisa Schipper, professora de Geografia do Desenvolvimento na Universidade de Bonn, Alemanha

A métrica desenvolvida pelos autores — nicho climático humano — é precisa?

Nenhuma métrica vai refletir a realidade com precisão, mas o conceito que sustenta o nicho climático humano é extremamente útil para se pensar fora dos números. A noção de que uma quantidade cada vez menor de pessoas será capaz de viver vidas decentes ecoa diretamente o alerta do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) de que há uma janela de oportunidade se fechando para garantir vidas sustentáveis e habitáveis para todos. Mesmo a um aumento de temperatura acima dos níveis pré-industriais de 1,5°C, como mostra o estudo, é improvável que isso seja possível.

Quais as perspectivas de adaptação humana aos cenários propostos?

O IPCC já estabeleceu em seus dois últimos ciclos de avaliação que há limites para a adaptação. O estudo atual sugere que para muitas pessoas a adaptação dificilmente terá qualquer impacto, especialmente no contexto de eventos extremos — muitos dos quais não somos capazes de nos adaptar devido ao seu tempo e magnitude. Esse pode não ser o caso de todos os 600 milhões de pessoas fora do nicho climático humano, mas a maioria dessas pessoas já vive em circunstâncias extremamente difíceis — devido às mudanças climáticas ou outros fatores que as tornam vulneráveis às mudanças climáticas.

Uma das consequências pode ser o aumento nas migrações associadas às mudanças climáticas?

Os resultados do estudo não devem ser interpretados como mudanças climáticas desencadeando êxodo em massa em lugares onde a maioria ou todas as pessoas vivem fora do nicho climático. No entanto, eles também não devem ser entendidos como significando que todos fora deste nicho podem se adaptar, porque nossa capacidade de adaptação é significativamente limitada à medida que o aquecimento global aumenta. O estudo coloca números para quantas pessoas vão sofrer e onde. Esses são lugares onde parece quase impossível viver uma vida decente e é provável que essas pessoas — se tiverem os meios — tentem se mudar. A política internacional de clima e desenvolvimento deve apoiar esse processo, mas não deve deixar de fornecer financiamento para os lugares que estão fora do nicho climático humano.