Ciência

Como nossa mente nos faz repetir os erros e o que fazer para evitar isso

Nós observamos apenas partes do mundo. Temos a tendência de observar o que é repetitivo, haja ou não algum padrão, e costumamos preservar a memória generalizando e recorrendo à tipificação


É errando que se aprende. Pelo menos, a maioria de nós já ouviu isso.

Mas a ciência mostra que, muitas vezes, deixamos de aprender com os erros do passado. E, em vez disso, costumamos repetir os mesmos erros.

O que quero dizer com erros aqui?

Acho que todos nós concordamos que aprendemos rapidamente que, se colocarmos a mão em um fogão quente, nos queimamos. E, por isso, provavelmente não iremos repetir este erro.

Isso acontece porque o nosso cérebro cria uma resposta à ameaça de estímulos fisicamente dolorosos com base em experiências prévias.

Mas, quando a questão é o pensamento, os padrões de comportamento e a tomada de decisões, nós repetimos nossos erros com frequência — como ocorre quando chegamos atrasados para os nossos compromissos, deixamos tarefas para a última hora ou julgamos as pessoas com base na primeira impressão.

O motivo pode estar na forma em que o nosso cérebro processa as informações e cria os modelos que consultamos repetidamente. Esses modelos são, essencialmente, atalhos que nos ajudam a tomar decisões no mundo real.

Mas esses atalhos mentais, chamados de heurísticas, também podem nos ajudar a repetir os nossos erros.

No meu livro Sway: Unravelling Unconscious Bias ("Oscilações: desvendando o viés inconsciente", em tradução livre), comento que os seres humanos não são naturalmente racionais, como nós gostaríamos de acreditar. A sobrecarga de informações é confusa e cansativa; por isso, nós filtramos o ruído.

Nós observamos apenas partes do mundo. Temos a tendência de observar o que é repetitivo, haja ou não algum padrão, e costumamos preservar a memória generalizando e recorrendo à tipificação.

Nós também tiramos conclusões a partir de dados esparsos e usamos atalhos cognitivos para criar uma versão da realidade na qual queremos implicitamente acreditar. Isso cria um fluxo reduzido de recebimento de informações, o que nos ajuda a ligar os pontos e preencher as lacunas com aquilo que já conhecemos.

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O nosso cérebro é preguiçoso — é preciso um grande esforço cognitivo para mudar os roteiros e atalhos que criamos na nossa mente

E, por fim, o nosso cérebro é preguiçoso. É preciso muito esforço cognitivo para mudar os roteiros e atalhos que já construímos.

Por tudo isso, somos mais propensos a cair sempre nos mesmos padrões de ação e comportamento, mesmo quando sabemos que estamos repetindo nossos erros.

Este comportamento é chamado de viés de confirmação — nossa tendência de confirmar aquilo em que já acreditamos, em vez de alterar nossa mentalidade para incorporar novas ideias e informações.

Também fazemos uso com frequência dos instintos — uma espécie automática e subconsciente de pensamento, baseada no acúmulo de experiências passadas — para tomar decisões e fazer julgamentos em situações novas.

Às vezes, nós insistimos em certos padrões de comportamento e repetimos nossos erros devido a um "efeito do ego" que nos induz a manter nossas crenças pré-existentes. Temos a tendência de escolher seletivamente as estruturas de informação e feedback que nos ajudem a proteger nosso ego.

Um estudo mostrou que, quando as pessoas são relembradas dos sucessos do passado, elas costumam repetir mais esses comportamentos bem-sucedidos. Mas, quando elas estão cientes ou são ativamente relembradas dos seus fracassos, a probabilidade de alterar o padrão de comportamento que gerou aquela frustração é menor.

Ou seja, as pessoas, na verdade, costumam repetir os mesmos comportamentos.

Isso acontece porque, quando pensamos nos nossos fracassos do passado, provavelmente ficamos tristes. E, nesses momentos, somos mais dispostos a perdoar aquele comportamento que nos é confortável e familiar.

Mesmo quando pensamos de forma lenta e cuidadosa, o nosso cérebro tem um viés voltado para as informações e modelos que havíamos usado no passado, mesmo que eles tenham resultado em erros. Este é o chamado viés da familiaridade.

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Muitas pessoas se sentem mal quando cometem erros – e tratam de escondê-los das outras pessoas

Mas também é possível aprender com nossos erros. Em outro experimento, por exemplo, macacos e seres humanos precisaram assistir a pontos barulhentos que se moviam sobre uma tela e analisar sua direção final de movimento.

Os pesquisadores concluíram que as duas espécies reduziam a velocidade depois de um erro. E, quanto maior o erro, maior seria a desaceleração posterior ao erro, o que demonstra que mais informações estavam sendo acumuladas.

Mas a qualidade dessa informação era baixa. Nossos atalhos cognitivos podem nos forçar a descartar qualquer informação nova que possa nos ajudar a evitar a repetição dos erros.

E, de fato, quando cometemos erros na realização de uma determinada tarefa, o "viés da frequência" nos torna propensos a repeti-los, sempre que fizermos a mesma tarefa outra vez.

Resumidamente, o nosso cérebro começa a considerar que os erros que cometemos anteriormente são a forma correta de realizar uma tarefa, criando o "caminho do erro" habitual.

Por isso, quanto mais repetirmos as mesmas tarefas, maior será a nossa chance de percorrer o caminho que levou ao erro, até que ele fique profundamente enraizado e se torne um conjunto de atalhos cognitivos permanentes no nosso cérebro.

Controle cognitivo

O panorama parece desanimador. Mas será que há algo que podemos fazer?

Nós temos uma habilidade mental que pode se sobrepor às heurísticas, conhecida como "controle cognitivo". E há estudos neurocientíficos recentes com camundongos que estão nos dando uma ideia melhor de que partes do cérebro estão envolvidas nessa habilidade.

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Aceite seus erros e reserve um tempo para analisá-los, recomendam os cientistas

Os pesquisadores também identificaram duas regiões do cérebro que abrigam "neurônios monitoradores dos próprios erros" – células cerebrais que monitoram erros. Estas áreas estão no córtex frontal e, aparentemente, são parte de uma sequência de etapas de processamento, que inclui desde retomar a concentração até aprender com nossos erros.

Os pesquisadores estão estudando se uma melhor compreensão deste mecanismo pode ajudar a desenvolver melhores tratamentos para pacientes com Alzheimer, já que a preservação do controle cognitivo é fundamental para o bem-estar na idade avançada.

Mas, mesmo se não tivermos a compreensão exata dos processos cerebrais envolvidos no controle cognitivo e na autocorreção, há medidas mais simples que podemos tomar. Uma delas é nos sentirmos mais confortáveis quando cometermos erros.

Talvez imaginemos que esta seja uma atitude errada em relação aos fracassos — mas, na verdade, é um caminho mais positivo para o progresso.

Nossa sociedade rejeita as falhas e os erros e, por isso, costumamos sentir vergonha dos nossos erros e tentamos escondê-los.

Quanto mais culpa e vergonha nós sentirmos e quanto mais tentarmos esconder os nossos erros dos outros, maior a nossa probabilidade de repeti-los. E, quando não nos sentimos tão desapontados com nós mesmos, maior a chance de absorvermos novas informações que podem nos ajudar a corrigir os nossos erros.

Também pode ser uma boa ideia fazer um intervalo na realização de uma tarefa que queremos aprender a fazer melhor.

Reconhecer as nossas falhas e fazer uma pausa para analisá-las pode nos ajudar a reduzir o viés de frequência, nos tornando menos propensos a repetir nossos erros e a reforçar os caminhos que nos levam a eles.

* Pragya Agarwal é professora de desigualdade e justiça social da Universidade de Loughborough, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.