Meio ambiente

53% dos maiores lagos do mundo estão secando, alerta estudo

Segundo os autores, a responsabilidade por essa degradação recai sobre as atividades humanas

Fontes de grande quantidade de água doce e habitat de uma enorme variedade de seres vivos, os lagos estão em situação alarmante. Mais da metade dos maiores lagos da Terra está secando, alerta um estudo publicado, ontem, na revista Science. Segundo os autores, a responsabilidade por essa degradação recai sobre as atividades humanas.

Durante a pesquisa, liderada por Fangfang Yao, da Universidade da Virgínia, em parceria com cientistas de outras faculdades dos Estados Unidos, da França e da Arábia Saudita, foi desenvolvida uma técnica para medir variações nos níveis de água nos maiores lagos e reservatórios do mundo. Os locais avaliados pelo grupo são responsáveis por 95% desse tipo de armazenamento de recursos hídricos.

Os estudiosos reuniram 30 anos de observações feitas a partir de satélites para analisar movimentações no armazenamento nesses locais. Foram, ao todo, 250 mil imagens captadas, entre 1992 e 2020, de 1.972 lagos. A combinação de medições de nível recentes e feitas a longo prazo permitiu que a equipe também reconstruísse o volume de lagos que datam de décadas.

Uma das conclusões é de que 53% dos lagos avaliados sofrem uma diminuição no armazenamento de água. A perda é equivalente a 17 lagos Meads, o maior reservatório dos Estados Unidos. Também de acordo com o trabalho, dois terços dos grandes reservatórios apresentam tendência de perda de água, e 25% da população mundial vive em uma bacia lacunar que está com tendência de declínio.

Gestão

Os pesquisadores usaram modelos estatísticos incorporando tendências climatológicas e hidrológicas para identificar os fatores naturais e os provocados pelo homem ligados ao fenômeno. No caso dos lagos naturais, grande parte da perda líquida foi atribuída ao aquecimento global e ao consumo de água pelos humanos.

As temperaturas mais altas provocadas pelo aquecimento global levaram à evaporação, mas também podem ter diminuído a precipitação em alguns lugares. "O sinal climático permeia todos os fatores", disse, à agência France-Presse de notícias (AFP), Balaji Rajagopalan, professor da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, e coautor da pesquisa.

A equipe enfatiza a necessidade de uma gestão de recursos hídricos que considere as atividades humanas, as mudanças climáticas e os impactos da sedimentação. Essa estratégia foi implementada em um dos lagos que a equipe estudou, o Sevan, na Armênia. No local, houve um aumento no volume de água nas últimas duas décadas, resultado que os cientistas associam às leis de conservação sobre a retirada de água instauradas desde o início dos anos 2000.