Jornal Correio Braziliense
MPOX

ONU diz que alerta sobre MPOX pode mudar se casos aumentarem

Assim como a covid-19, a doença deixa de ser emergência pública global, pois a transmissibilidade do vírus estabilizou. A agência das Nações Unidas assinala, porém, que a classificação pode mudar novamente se os casos aumentarem

Uma semana após alterar o status da covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a mpox (anteriormente chamada varíola dos macacos) também não é mais uma emergência pública global. O alerta havia sido emitido em julho do ano passado, em decorrência do aumento do número de casos da doença. O anúncio foi realizado por Tedros Adhanon Ghebreyesus, diretor-geral do organismo das Nações Unidas, em uma coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça.

Apesar da alteração, é preciso manter a vigilância, ressaltou Ghebreyesus. "Embora os alertas para mpox e covid-19 tenham terminado, a ameaça de novas ondas se mantém para ambas. Os dois vírus continuam circulando, e continuam matando", reforçou o diretor-geral durante o evento.

Werciley Júnior, médico infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, esclareceu que a declaração de urgência ou emergência é indicada quando se tem um aumento súbito da ocorrência da doença, sem haver medidas de controle efetivo, como vacina e medicamentos. "Os casos diminuíram sua transmissibilidade, ou seja, estabilizaram, mas não quer dizer que acabou, apenas estabilizou. Mas, se acontecer um novo aumento, há necessidade de rediscutir o retorno dessa classificação."

Estigma

Tedros Adhanon Ghebreyesus seguiu as recomendações do Comitê de Emergências da Organização Mundial da Saúde, ao anunciar o fim da emergência. "Houve quase 90% de casos a menos nestes três meses, em comparação com os três meses anteriores", justificou. No mundo, já foram registradas mais de 87 mil ocorrências em 111 países, incluindo o Brasil. A doença deixou 140 mortos, segundo o último relatório da organização.

Rosamund Lewis, líder técnica da mpox no Programa de Emergências em Saúde da OMS, reforçou na coletiva que é de extrema importância manter os esforços que já foram iniciados, porque "enquanto um vírus tiver a oportunidade de continuar a se transmitir de pessoa para pessoa, ele também terá a oportunidade de mudar, sofrer mutações, evoluir".

Ainda de acordo com o documento divulgado ontem pela OMS, o surto segue com baixas taxas de transmissão na Europa e nas Américas. Uma curva de crescimento foi registrada no Pacífico Ocidental, casos foram relatados no Japão, China e Coreia do Sul. Desde o boletim anterior, de 27 de abril, houve 264 novos casos e 10 mortes, uma alta de 0,3% no número de infecções. Na África, os impactos não são claros. "O vírus continua afetando comunidades em todas as regiões, incluindo a África, onde a transmissão ainda não é bem compreendida", acrescentou o diretor-geral.

Negligência 

Michael Ryan, diretor-executivo do programa da OMS, afirmou que a doença foi negligenciada "e pode voltar a nos chocar no futuro." Ryan acrescentou que é indispensável manter a vigilância sobre a patologia: "Precisamos continuar monitorando esse vírus".

A maioria das infecções relatadas no mundo afetou homens que mantiveram relações sexuais com parceiros do mesmo sexo, o que acendeu um alerta para possíveis problemas de discriminação. "Embora o estigma tenha sido uma preocupação impulsionada na gestão desta epidemia e continue dificultando o acesso aos cuidados para mpox, a temida reação violenta contra as comunidades mais atingidas não se materializou", afirmou Ghebreyesus.

O Brasil é uma das nações mais acometidas pela doença, com mais de 10 mil casos, e 16 mortes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que registraram cerca de 30 mil infecções pelo vírus. Agora, o mais recente boletim da OMS mostrou que o Brasil está em uma região com declínio no número de registros da mpox. No Distrito Federal, o último informe epidemiológico da Secretaria de Estado e Saúde apontou 352 ocorrências confirmadas laboratorialmente e 33 prováveis desde o início das análises, em 2022.  

 

Nova nomenclatura

Em 28 de novembro de 2022, a Organização Mundial da Saúde anunciou a renomeação da mpox, conhecida anteriormente como varíola dos macacos. A mudança aconteceu para combater o tom discriminatório e estigmatizante atribuído à antiga designação da patologia, o que foi apontado por grupos de luta pelos direitos humanos.

A nomenclatura "varíola dos macacos" se originou por volta da década de 1950, quando o vírus causador da patologia foi encontrado em macacos. Por conta do surto da mpox, passou a ser usada de forma preconceituosa, resultando na necessidade de alterá-la.

De acordo com a OMS, o termo mpox é mais adequado, além de ser usado em todos os idiomas. Os dois nomes para a doença poderão ser utilizados até o fim de 2023, quando mpox passará a ser o único. (IA)

Atenção e precaução

"Um dos principais cuidados para evitar a infecção e transmissão é a realização de práticas sexuais seguras. Também é importante estar sensível à detecção de sintomas, muitos pacientes têm sintomas muito leves, como uma lesão que parece uma espinha, linfonodos pouco aumentados, estar atento aos sinais para que se faça o exame, principalmente se houver lesões na região genital, evite ter contato e que faça o teste. Outro cuidado é o indivíduo que tem direito à vacinação, se vacinar."

Victor Bertollo, infectologista do Hospital Anchieta de Brasília