Diante dos resultados da pesquisa do Instituto Datafolha que apontou o Google como principal meio utilizado pelos brasileiros para tirar dúvidas sobre saúde, o Correio procurou especialistas em educação midiática para orientar sobre boas práticas no uso do buscador para pesquisar informações corretas sobre o tema.
De acordo com levantamento feito com 2.041 participantes maiores de 16 anos, em novembro do ano passado, o site de buscas é utilizado por 47% dos entrevistados para sanar dúvidas de saúde. Esse porcentagem cresceu, em relação à pesquisa anterior divulgada pelo Datafolha, em 2019. Naquele ano, a preferência no uso do Google para esclarecer questões de saúde era de 37%. Em segundo lugar, com 42% da preferência dos entrevistados, a pesquisa retratou o hábito de ir ao médico de confiança ou a um posto de saúde para checar informações sobre essa área.
Esse crescimento, avalia a coordenadora de educação Mariana Ochs, do Programa EducaMídia, do Instituto Palavra Aberta, ocorre em meio à aceleração de um processo de digitalização da saúde. "A gente tem uma tendência natural aumentar a presença de ambientes digitais nas nossas relações de comunicação, de aprendizagem e a pandemia (de covid-19) acelerou essa adoção", diz Ochs.
Embora reconheça o aumento no uso do Google para sanar dúvidas sobre saúde como algo natural da sociedade, Mariana Ochs reforça a necessidade de focar na qualidade das pesquisas. "Minha preocupação não é sobre a quantidade, mas sim se a pessoas fazem buscas qualificadas", defendeu.
O termo buscas qualificadas, segundo a coordenadora do EducaMídia, significa usar o site de pesquisas para acessar e compartilhar informações verdadeiras sobre saúde e que tenham comprovação científica. A partir deste princípio, Mariana Ochs elaborou um guia com cinco dicas para qualificar as pessoas na busca por informações confiáveis.
- Identifique a fonte da pesquisa: Sabe aquela justificativa de que, se deu no Google, é verdade? Esqueça, não a use mais! Isso porque o Google é apenas um site para buscar conteúdos, que podem ser verdadeiros ou não. Isso significa que a primeira dica para buscar informações confiáveis é identificar a fonte da pesquisa.
"As fontes podem ser um órgão de saúde, um especialista, um Jornalista ou alguém tentando vender um produto, influenciar comportamentos ou pode ser um relato pessoal sobre saúde, por exemplo. Então é importante identificar de quem aquele conteúdo vem, quais são as intenções daquele conteúdo. Esse primeiro passo é importante porque, no Google, nem tudo é igualmente confiável e nem tudo é igualmente útil sobretudo no que diz respeito à nossa saúde", explicou Mariana Ochs. - Avalie a fonte: A segunda dica da especialista em educação midiática é avaliar se a fonte é confiável e quais são as intenções deste emissor ao divulgar a informação. Segundo Ochs, não adianta apenas conceber a quem é a fonte da busca. É necessário analisar se a pessoa ou instituição analisada compartilha conteúdos baseados em fatos. "Não basta identificar apenas se a informação é falsa ou verdadeira, é preciso checar se aquela fonte é uma autoridade, é um especialista e se é alguém que tem competência para falar sobre um determinado assunto", afirmou. Ela acrescenta veículos de imprensa e divulgadores científicos como fontes confiáveis de informação sobre saúde.
- Seja proativo em suas buscas: Após identificar a fonte, perceber se o emissor é confiável e quais são suas intenções na publicação daquele conteúdo, a representante do Instituto Palavra Aberta enfatiza a necessidade de o internauta identificar, na página do Google, quais são os conteúdos que aparecem como páginas não comerciais. "Então, é importante, por exemplo, a gente observar o endereço do site para entender qual o tipo de organização, além de olhar o trecho que aparece em destaque logo acima do primeiro resultado da busca. Isso é uma coisa que o Google chama de trecho em destaque e que tem uma política específica, já que o Google tenta destacar trechos que têm relevância e que são de fontes de qualidade”, explicou.
- Identifique se o conteúdo é patrocinado: Como o contexto de disseminação de conteúdos sobre saúde é recheado de teorias sem comprovação científica e que visam o lucro, a coordenadora de Educação do EducaMídia estabeleceu como o quarto passo do guia o ato de verificar se um conteúdo é patrocinado. “É preciso cuidado com informações de saúde porque, nesta área, há empresas que demonstram ter apenas interesses comerciais e que usam o Google para vender algum produto, ou serviço, por exemplo”, contou Ochs. Ela acrescentou ser necessário, também, suspeitar de métodos ou produtos que se apresentam como promotores de “receitas milagrosas e curas fáceis de doenças". “É preciso ter atenção com esses conteúdos porque podem ser armadilhas para aprender a nossa atenção e fazer a gente consumir produtos ou serviços”.
- Não tome atitudes baseadas em relatos pessoais: Durante o tratamento de uma gripe, por exemplo, o processo de cura da doença é particular para cada indivíduo. Alguns desenvolvem mais sintomas de tosse, já outros mais moleza e coriza. A recuperação de alguns demora apenas três dias, já outros demandam mais tempo para ficar sem sintomas. Ou seja, não se baseie em relatos pessoais para tomar as suas decisões. "O histórico de saúde e a reação do nosso corpo às doenças é uma coisa muito individual. Varia muito de indivíduo para indivíduo, então é claro que fóruns e blogs grupos de suporte são ótimas maneiras de compartilhar experiências, mas não substituem o conselho de um médico ou de um especialista de saúde, então a gente precisa sempre checar as informações obtidas de testemunhos pessoais e entender que elas são exatamente isso pessoais e individuais", concluiu Mariana Ochs.
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