A queda nos níveis de oxigênio no sangue causada pela apneia obstrutiva do sono, doença crônica que gera interrupções repetidas na respiração enquanto a pessoa dorme, está ligada a mudanças na atividade genética do corpo no decorrer do dia, aponta um estudo publicado, ontem, na revista PLOS Biology. Segundo a pesquisa do Cincinnati Children's Hospital Medical Center, nos Estados Unidos, em testes com camundongos, a patologia aumentou o risco de complicações cardiovasculares, respiratórias, metabólicas e neurológicas, chegando a comprometer até 74% das atividades genéticas nos pulmões e quase 70% das que ocorrem no coração.
De acordo com os autores, a atividade genética de um organismo varia ao longo do dia, sofrendo alterações diante de fatores internos e externos, como a hipóxia, que gera reduções nos níveis de oxigênio. Para o estudo, os cientistas expuseram camundongo a hipóxias intermitentes e avaliaram a função de transcrição de DNA em tecidos do pulmão, fígado, rim, músculo, coração e cerebelo ao longo do dia.
Os pesquisadores notaram que as maiores alterações em decorrência da hipóxia foram no pulmão, onde a falta do gás afetou a transcrição de quase 16% de todos os genes do tecido. Pouco menos de 5% dos genes foram afetados no coração, fígado e cerebelo. Genes que seguiam as atividades conforme o ciclo circadiano, o relógio biológico do corpo, foram mais afetados pela hipóxia intermitente, com alterações significativas observadas em 74% dos que agem no pulmão e 66,9%, no coração.
Diagnóstico precoce
David Smith, coautor do estudo, considera que os resultados fornecem novas informações sobre os mecanismos que podem estar associados a danos nos órgãos em indivíduos com apneia. "As descobertas podem ser úteis para identificar alvos para futuros estudos que avaliem abordagens diagnósticas ou terapêuticas. Por exemplo, por meio de um exame de sangue rastreando problemas genéticos para detectar precocemente a apnéia obstrutiva do sono", indica.
Líder do trabalho, Bala SC Koritala também avalia que, mesmo usando o modelo animal, a equipe conseguiu identificar diversos impactos profundos da doença que podem afetar a saúde. "Essas descobertas únicas revelam mudanças biológicas precoces ligadas a esse distúrbio, ocorrendo em vários sistemas de órgãos", afirma, em nota.
Larissa Camargo, médica otorrinolaringologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, lembra que ter apneia pode levar a complicações mais sérias, para além de problemas nas expressões genéticas. "Ter uma doença de base, um problema cardíaco, ser um hipertenso, por exemplo, pode ser a causa de um estresse oxidativo, que é a redução da oxigenação, que pode resultar em um infarto ou um AVC enquanto a pessoa dorme. Por isso, a importância de tratar e prevenir a apneia." (IA)
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