Em 17 de maio é celebrado o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia, ou LGBTfobia, (International Day Against Homophobia, em inglês), criado pelos movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos em memória à data em que a homossexualidade foi excluída da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 17 de maio de 1990.
"Também conhecida como Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, a data visa conscientizar sobre a importância da luta contra a discriminação da sexualidade ou identidade de gênero", frisa Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexologia Clínica, membro da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana (SBRASH) e especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC).
Um estudo conduzido por pesquisadores da UNESP e da USP, publicado na revista científica Nature Scientific Reports, mostrou que o percentual de brasileiros adultos declarados assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgênero é de 12%, ou cerca de 19 milhões de pessoas, levando-se em conta os dados populacionais do IBGE.
Os resultados da pesquisa apontaram que, dentre os 12% considerados LGBTQIA+, 5,76% são assexuais, 2,12% são bissexuais, 1,37% são gays, 0,93% são lésbicas, 0,68% são trans e 1,18% são pessoas não-binárias.
Como a homofobia afeta a saúde mental
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de agressões contra os cidadãos LGBTQIA registradas no ano de 2021 foi de 1.719, um aumento de 35,2% em relação a 2020, quando foram registradas 1.271. Já o número de estupros passou de 95 para 179.
"Em pleno século 21, mesmo após anos de esforços dos movimentos em prol dos direitos humanos, a identidade transgênero e a afeição por indivíduos do mesmo sexo/gênero continuam sendo encaradas como uma anormalidade por alguns segmentos da sociedade", afirma Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Segundo Claudia Petry, a comunidade LGBTQIA passa diariamente pela sensação de não pertencimento à sociedade, de não se enquadrar no espectro binário de orientação sexual e identidade de gênero, sendo fortes gatilhos para desencadear transtornos comportamentais.
Distúrbios mentais
Vários estudos realizados pela Mental Health Foundation, instituição no Reino Unido voltada à promoção da saúde mental, confirmam que homossexuais e transexuais têm maior suscetibilidade a transtornos psiquiátricos em comparação aos heterossexuais.
O pesquisador Ilan H. Meyer, do Departamento de Ciências Sociais e Médicas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, também examinou a prevalência de distúrbios mentais em indivíduos LGBTQIA.
O autor considerou fatores como preconceito, falta de apoio familiar, exclusão dos espaços públicos, discriminação no ambiente de trabalho, isolamento e, consequentemente, as experiências diárias de rejeição e hostilidade.
"O estudo concluiu que estes fatores contribuem para o desenvolvimento de estresse crônico, ansiedade generalizada, depressão, pensamentos suicidas, automutilação, abuso de álcool e substâncias, entre outras condições", pontua Monica Machado.
De acordo com Claudia Petry, também é muito comum desenvolver a chamada homofobia internalizada. "A pessoa começa a criar uma negação da própria orientação sexual, gerando enfrentamento para aceitar a si mesma. Esse quadro costuma ocorrer devido à sobrecarga emocional que vai sendo internalizada ao longo da sua vida."
Declínio cognitivo
Uma pesquisa da Universidade do Estado de Michigan, liderada por docentes de Sociologia da instituição e divulgada no The Gerontologist, trouxe um dado alarmante: indivíduos LGBTQIA possuem maior propensão a desenvolver comprometimento cognitivo leve ou demência precoce na terceira idade, em comparação a adultos heterossexuais na mesma faixa etária.
O trabalho comparou habilidades cognitivas de 3,5 mil adultos LGBTQIA e heterossexuais, usando uma ferramenta de triagem e um questionário que testa seis domínios. Essas áreas incluíam orientação temporal, linguagem, habilidades visuoespaciais, função executiva, atenção, concentração e memória de curto e longo prazo.
Dentre as conclusões, o estresse e a depressão, comuns nesse grupo, foram considerados os fatores de risco mais importantes para o declínio cognitivo ao decorrer da vida.
Baixa qualidade de vida
Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a partir de microdados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, revelou que a população LGBTQIA no Brasil possui, em média, três vezes mais chance de sofrer violência física do que o público heterossexual.
O Instituto Nacional de Estatísticas Britânico (ONS) corrobora a tese: suas pesquisas indicam que as métricas de qualidade de vida de pessoas da comunidade LGBTQIA eram mais baixas do que as registradas por heterossexuais.
"De fato, lidar com ataques homofóbicos constantemente, seja por agressão física ou moral, pode causar danos irreparáveis e comprometer a saúde da pessoa como um todo. Daí a importância de buscar ajuda especializada e, principalmente, denunciar todo e qualquer episódio de homofobia", finaliza Monica Machado.
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