“Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”. As palavras de Neil Armstrong após ser o primeiro humano a pisar na Lua em 20 de julho de 1969 foram encaradas, por muitos anos, como o último episódio da corrida espacial que agitou o mundo entre as décadas de 1950 e 1970. Agora, contudo, essa corrida é retomada — mas com novos aspectos e objetivos mais ousados.
Nos últimos meses, o Correio apresentou várias notícias relacionadas ao tema, como o lançamento teste da empresa SpaceX, de Elon Musk, do foguete mais poderoso da história, a Missão Artemis I, da Nasa, que visa a exploração lunar, e tentativas de pouso de sonda na Lua e lançamento de foguetes provenientes de agências japonesas. Essas foram apenas algumas das mais recentes tentativas nos último seis meses e, apesar de nenhuma delas ter alcançado o sucesso completo, elas indicam que muito está para mudar nos próximos anos.
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Raul Colcher — membro sênior do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) e sócio e presidente da Questera Consulting — explica que muitas mudanças já ocorreram nesta área e seguem ocorrendo, impactando o nosso dia a dia diretamente e também indiretamente.
"Desde o lançamento dos primeiros satélites de comunicação geoestacionarios, passando pelas grandes constelações de satélites de órbita baixa, houve ganhos de qualidade, eficiência no uso de espectro de frequências, diminuição de latência, diversificação das aplicações e barateamento das soluções", aponta.
O que ainda está por vir
O especialista acentua também que muito do que está sendo visto hoje pode influenciar positivamente vários setores como os de de telecomunicações, transportes, energia e alimentos.
Um dos exemplos citados são o emprego de satélites para viabilizar telecomunicações em escala global, soluções de geolocalização, aplicações de defesa e inteligência, entre outros. "Um dos resultados do desenvolvimento tecnológico na exploração espacial será o aumento da produção de alimentos, com maior segurança alimentar nas regiões pobres do planeta. Nossos netos terão outro tipo de agricultura. Viagens de longa distância podem se tornar mais rápidas e baratas", exemplifica.
O especialista indica também que os serviços de segurança pública e defesa contra atividades terroristas devem se tornar mais eficientes e confiáveis. "A coleta sistemática e massiva de dados — associados à exploração do espaço — e o seu tratamento por sistemas de inteligência artificial tendem a proporcionar enormes ganhos de eficiência em processos, em praticamente todos os cenários da atividade humana", prevê Colcher.
"Acredito que a realidade (do futuro) pode, em prazos relativamente curtos, ser mais surpreendente e impactante que o previsto no desenho dos Jetsons. Por exemplo, a geração e captura de energia solar no espaço pode trazer uma era de abundância energética que tende a transformar a economia global. E as viagens espaciais serão generalizadas, diminuindo os tempos de deslocamento na Terra e criando um turismo espacial", ressalta.
O que pode mudar no Brasil
Entretanto, há também de se considerar os impactos que essa nova corrida pode causar diretamente no Brasil. Colcher destaca que questões voltadas para o meio ambiente e também para a geografia do país, devem ser as que mais sofrerão mudanças.
Alguns exemplos segundo o especialista são: o monitoramento ambiental em áreas gigantescas, como a Floresta Amazônica, a difusão e melhoria dos serviços de posicionamento geográfico via satélite para aplicações de mobilidade, em cidades e rodovias, e o aproveitamento de condições geográficas favoráveis para o lançamento de satélites, em bases já existentes.
"Por outro lado, existe oportunidade no Brasil para a intensificação da pesquisa e o desenvolvimento associados a pelo menos alguns nichos na produção de bens e serviços emergentes relacionados à exploração espacial", frisa Colcher.
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