Três anos e quatro meses depois de declarar a covid-19 uma emergência sanitária internacional, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, suspendeu, ontem, a classificação. Em uma coletiva de imprensa, ele destacou que especialistas do Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional avaliaram a situação atual da pandemia e julgaram que é possível alterar a condição para "gestão de longo prazo". A chefe técnica da OMS para a doença, porém, destacou que o vírus Sars-CoV-2 ainda é um risco. "A fase de emergência acabou, mas a covid não. Não podemos baixar a guarda", disse Maria Van Kerkhove.
O alerta de nível máximo foi emitido pela OMS em 30 de janeiro de 2020, quando pouco se sabia sobre a covid-19. "Naquela época, fora da China, havia menos de 100 casos e nenhuma morte relatada", relembrou, ontem, o diretor-geral. Em março do mesmo ano, Ghebreyesus declarou a pandemia, com recomendação de políticas de confinamento. "Nos três anos desde então, a covid-19 virou nosso mundo de cabeça para baixo. Quase 7 milhões de mortes foram relatadas à OMS, mas sabemos que o número é várias vezes maior — pelo menos 20 milhões", afirmou. De acordo com o boletim mais recente do Ministério da Saúde, no Brasil, até hoje, mais de 700 mil pessoas morreram vítimas da doença.
"O fim da emergência não é enfaticamente o fim da covid-19 como problema de saúde pública. Em vez disso, é um reconhecimento de que não estamos mais vendo grandes surtos de infecções, doenças graves e mortes", esclarece Mark Woolhouse, professor de epidemiologia de doenças infecciosas da Universidade de Edimburgo, na Escócia. "Esperançosamente, a grande onda na China no início do ano — precipitada pela saída abrupta daquele país de sua estratégia Zero Covid — será o último evento de tal magnitude", diz.
Segundo o especialista, o sucesso das vacinas e a imunidade natural da população justificam a medida da OMS. "Essa mudança na epidemiologia é resultado do aumento da imunidade coletiva em populações de todo o mundo, graças a uma combinação de cobertura vacinal e exposição natural ao vírus." Mas ele destaca a necessidade de os sistemas de saúde continuarem vigilantes.
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"O Sars-CoV-2 continua a evoluir rapidamente, gerando novas variantes que podem escapar pelo menos parcialmente de qualquer imunidade existente. Isso mantém os níveis de infecção altos e algumas variantes ainda geram novas ondas, embora não sejam tão explosivas quanto antes. A última variante de interesse é XBB.1.16 e certamente haverá outras", observa Woolhouse. O Brasil registrou o primeiro caso dessa mutação, apelidada de arcturus, na última terça-feira.
Na prática, segundo Tedros Ghebreyesus, não haverá mudanças em relação às recomendações de cuidados com o vírus. O termo é técnico e serve para coordenar ações de vigilância sanitária pelo globo. Vários países já revogaram a declaração ao nível local — no Brasil, desde abril do ano passado, a covid-19 não é uma emergência nacional.
Na coletiva de imprensa, o diretor-geral da OMS lamentou que muitos países deixaram a covid-19 em segundo plano. "Na semana passada, a covid-19 ceifou uma vida a cada três minutos — e essas são apenas as mortes que conhecemos. Enquanto falamos, milhares de pessoas em todo o mundo estão lutando por suas vidas em unidades de terapia intensiva. Esse vírus veio para ficar. Ainda está matando e ainda está mudando", frisou o chefe da agência da ONU
"Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes. A pior coisa que qualquer país pode fazer agora é usar essa notícia como um motivo para baixar a guarda, desmantelar os sistemas que construiu ou enviar a mensagem ao seu povo de que o a covid-19 não é motivo de preocupação", advertiu Ghebreyesus.
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