Jornal Correio Braziliense

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

Nutricionista avalia veto de prescrição de esteroides e anabolizantes

CFM proíbe médicos de receitarem esteroides androgênicos e anabolizantes, substâncias que imitam a ação da testosterona, para fins estéticos e esportivos

Felipe França, nutricionista especialista em oxidologia e bioquímica celular, sócio-fundador da Clínica Soloh de Nutrição, mestre em aspectos políticos e jurídicos da saúde (bioética) pela Universidade UMSA (Argentina), avalia a decisão do Conselho Federal de Medicina (CFM) que veta 'a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) com finalidade estética, para ganho de massa muscular e/ou melhora do desempenho esportivo, seja para atletas amadores ou profissionais, por inexistência de comprovação científica suficiente que sustente seu benefício e a segurança do paciente. É o que define o Conselho Federal de Medicina (CFM) através da Resolução nº 2.333/23, publicada nesta terça-feira (11) no Diário Oficial da União (DOU)".

Confirma os pontos abordados por Felipe França

1- Como avalia essa proibição do uso e da prescrição por médicos de esteroides androgênicos e anabolizantes para finalidade estética, de ganho de massa ou para melhoria do desempenho esportivo, bem como da realização de cursos, eventos e publicidade que estimulem ou associem possíveis benefícios das terapias androgênicas a essas finalidades?

Esteroides androgênicos e anabolizantes são substâncias sintéticas que imitam a ação da testosterona no organismo. O uso de anabolizantes para fins não-médicos, como a melhoria estética ou de desempenho físico, pode ser extremamente prejudicial para a saúde de um indivíduo. Estes produtos podem aumentar a massa muscular e melhorar o desempenho físico em curto prazo, mas o uso a longo prazo, podem levar a uma série de problemas de saúde graves como: aumento da pressão arterial, danos no fígado, problemas cardiovasculares, redução da fertilidade, alterações hormonais e psicológicas. Principalmente quando não existe um trabalho multidisciplinar.

Como exemplo, sabemos que o uso de anabolizantes como forma de melhorar o desempenho esportivo é considerado doping desde a década de 50. Já nessa época, para aumentar a força e a resistência muscular, os atletas faziam o uso esteroides anabolizantes. O Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Agência Mundial Antidoping (WADA), o incluíram em suas listas de substâncias proibidas. E isso causa transtornos para os atletas que fazem o uso mesmo que em forma de tratamento para outras finalidades.

2 - Para quais fins esses tipos de substâncias são recomendadas?

Os anabolizantes são geralmente utilizados como terapia de reposição hormonal em pacientes que sofrem de deficiências hormonais, como a deficiência de testosterona, por exemplo.

Além disso também podem auxiliar no aumento de massa muscular em pacientes que tem a perda dessa massa (caquexia) por causa de uma patologia que faz a queima de proteína muscular, como HIV e o câncer, já tendo sido comprovado em estudos. Um exemplo, o estudo publicado em 2012 pela revista The New England Journal of Medicine, que investigou o efeito da terapia de reposição de testosterona em homens com câncer de próstata avançado que estavam sendo tratados com supressão de testosterona. O estudo mostrou que a terapia de reposição de testosterona aumentou significativamente a massa muscular e melhorou a força muscular em comparação com um grupo controle. Mas o estudo evidencia também o quanto é importante um trabalho em conjunto, multidisciplinar, para uma avaliação cuidadosa de cada caso, levando em consideração os riscos associados, como o risco de estimular o crescimento de células cancerosas e o aumento do risco de eventos cardiovasculares.

3 - Que tipos de complicações podem ocorrer pelo uso de esteroides e anabolizantes?

Podemos enumerar pelo menos 5 complicações:

  1. O uso de anabolizantes pode causar danos ao fígado, incluindo tumores hepáticos, icterícia e falência hepática;
  2. O uso indiscriminado de anabolizantes podem aumentar a pressão arterial, causar coágulos sanguíneos e aumentar o risco de ataques cardíacos e derrames;
  3. Um dos fatores que mais preocupam os homens é que o uso de anabolizantes pode levar à redução da produção de espermatozoides e à diminuição da fertilidade masculina;
  4. Pode ocasionar problemas dérmicos como acne, calvície, crescimento de pelos no corpo, entre outros. Isso em decorrência de um grande desequilíbrio hormonal;
  5. O uso de esteroides anabolizantes pode causar alterações de humor, irritabilidade, agressividade, paranoia e depressão.

Mesmo em caso de necessidade por questões de saúde, o grande problema é o uso sem orientação, prescrição e ainda acompanhamento multidisciplinar, tanto de médicos como de nutricionistas, que em conjunto tendem a trabalhar para amenizar os efeitos colaterais ocorridos pelo uso.