ARQUEOLOGIA

Fóssil brasileiro ajuda a entender como dinossauros se tornaram gigantes

Um fóssil datado de 225 milhões de anos e que está soterrado no Rio Grande do Sul revela estruturas que tornaram os ossos menos densos — o que possibilitou o crescimento desses animais

Aline Gouveia
postado em 26/04/2023 11:48 / atualizado em 26/04/2023 11:53
 (crédito: Matheus Gadelha / Blog Colecionadores de Ossos/ Unicamp)
(crédito: Matheus Gadelha / Blog Colecionadores de Ossos/ Unicamp)

Os dinossauros foram os maiores animais terrestres que já pisaram no planeta. Eles podiam pesar toneladas e ultrapassar 30 metros de comprimento. Mas o que pode explicar o gigantismo desses animais? Um fóssil datado de 225 milhões de anos e que está soterrado no município de Agudo, no Rio Grande do Sul, pode ajudar a entender essa questão. Isso porque o Macrocollum itaquii é o dinossauro mais antigo que possui estruturas conhecidas como sacos aéreos.

Essas estruturas são espaços ocos nos ossos que ajudaram os dinossauros a obter mais oxigênio, resfriar o corpo e se tornarem bem grandes, a exemplo do Tyrannosaurus rex e do Brachiosaurus. Segundo o estudo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os sacos aéreos tornaram os ossos menos densos, o que possibilitou que esses animais ultrapassassem os 30 metros de comprimento.

O dinossauro em questão era um bípede, ancestral dos quadrúpedes gigantes. “O Macrocollum, por sua vez, foi o maior de seu tempo, com cerca de três metros de comprimento, sendo que poucos milhões de anos antes os maiores dinossauros tinham em torno de um metro. Os sacos aéreos certamente facilitaram esse aumento de tamanho”, explicou o pesquisador Tito Aureliano à Agência Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que apoiou a pesquisa.

Os sacos aéreos foram uma vantagem evolutiva para esses dinossauros achados no Brasil. “Esse foi um dos primeiros dinossauros a pisar na Terra, no período Triássico. Essa adaptação possibilitou que eles crescessem e resistissem ao clima tanto daquele período como dos que vieram depois, o Jurássico e o Cretáceo. Os sacos aéreos foram uma vantagem evolutiva sobre outros grupos, como os mamíferos, permitindo aos dinossauros se diversificar mais rapidamente”, disse a professora e uma das autores do estudo, Fresia Ricardi Branco.

Outras descobertas

Os pesquisadores também observaram que a evolução dos Macrocollum itaquii não foi linear, pois a estrutura dos sacos aéreos desses dinossauros é intermediária. Tradicionalmente, os espaços ocos nos ossos têm duas formas possíveis: câmaras e camelas.

As câmaras são espaços maiores e as camelas são bem menores e ramificados. “A hipótese mais aceita até então era de que os sacos aéreos começaram como câmaras e evoluíram para camelas. O que estamos propondo, a partir do que vimos nesse espécime, é que, antes de todas, houve esta outra forma”, pontuou Tito.

Além disso, há evidências de sacos aéreos na região cervical e na dorsal dos Macrocollum — fato que surpreendeu os pesquisadores, pois os fósseis examinados anteriormente indicavam que essas estruturas localizadas nesses locais do corpo surgiram há 190 milhões de anos, ou seja, bem depois do tempo em que esses dinossauros viveram.

“É como se a evolução tivesse feito diferentes experimentos até chegar ao sistema definitivo, em que os sacos aéreos iam desde a região cervical até a cauda. Não foi um processo linear”, emendou o pesquisador à Fapesp. A pesquisa, publicada no periódico Anatomical Record pode ser acessada na íntegra neste link.

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