Com a missão de descobrir condições favoráveis à vida fora da Terra, a sonda espacial europeia Juice foi lançada com sucesso ontem, a bordo de um foguete Ariane 5, rumo a Júpiter e às suas luas geladas. O veículo decolou do Centro Espacial Europeu em Kourou, na Guiana Francesa, às 12h14 GMT (09h14 de Brasília), 24 horas depois de seu lançamento ter sido adiado devido ao risco de tempestades.
A sonda se separou do foguete de lançamento, conforme planejado, 27 minutos após a decolagem, a uma altitude de cerca de 1,5 mil quilômetros. Assim que a separação foi concluída, as equipes tiveram que esperar que o satélite enviasse seu primeiro sinal, que veio após longos minutos de suspense. Os enormes painéis solares foram, em seguida, acionados. "A missão de Ariane 5 foi um sucesso", declarou o presidente da Arianespace, Stéphane Israël.
Ao contrário de lançamentos clássicos que têm uma certa margem para decolar, a janela de lançamento da sonda Juice é de apenas de um segundo devido à órbita específica que deve atingir. "É a sonda mais complexa já enviada a Júpiter", disse o diretor-geral da Agência Espacial Europeia, Josef Aschbacher, na sala de controle Júpiter no Centro Espacial da Guiana. "É uma missão extraordinária que mostra tudo o que a Europa é capaz de fazer", acrescentou Philippe Baptiste, presidente do Centro Nacional de Estudos Espaciais da França.
Responsável pela missão, Nicolas Altobelli conta que Juice levará 17 dias para posicionar suas antenas e, em três meses, haverá um diagnóstico final sobre o desempenho nessa etapa do projeto. "Então, estaremos na fase de viagem interplanetária", explica. A previsão é de que a sonda chegue ao seu destino em 2031, onde buscará condições propícias ao aparecimento de outras formas de vida nas luas do planeta.
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Catapultas
Não será uma viagem fácil, já que a Juice terá que realizar complexas manobras de assistência gravitacional, que consistem em utilizar a força de atração dos outros planetas como uma catapulta. Assim, realizará inicialmente um sobrevoo Lua-Terra, depois irá em direção a Vênus (2025) e voltará à Terra (2029), antes de tomar seu impulso em direção ao maior planeta do Sistema Solar e às suas quatro maiores luas. Os satélites foram descobertos pelo cientista Galileu Galilei há 400 anos: a vulcânica Io e suas três companheiras de gelo — Europa, Ganímedes e Calisto.
Embora Júpiter seja inabitável, seus satélites são candidatos ideais: sob suas superfícies de gelo, há oceanos com água em estado líquido, e apenas em água nesse estado é possível o surgimento de vida como conhecemos. A sonda deve chegar à órbita de Ganímedes, seu principal alvo, em 2034. Maior lua do Sistema Solar, ela é a única que tem um campo magnético que a protege das radiações. Lá, a Juice analisará a composição de seu oceano para verificar se um ecossistema poderia ser desenvolvido nele.
Construída pela Airbus, a sonda leva 10 equipamentos específicos, como câmera óptica, espectrômetro, radar e magnetômetro (veja arte), e está equipada com imensos painéis solares de 85 metros quadrados para conservar a potência em um ambiente onde a luz do Sol é 25 vezes menor do que na Terra. Com um custo total de 1,6 bilhão de euros (cerca de R$ 8,7 bilhões), Juice é a primeira missão europeia a explorar um planeta no sistema solar externo, que se inicia depois de Marte.
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