Por acidente, o professor Pieter Van Dokkum, da Universidade de Yale, em New Haven, no estado de Connecticut, nos Estados Unidos, encontrou um dos fenômenos mais misteriosos (e surpreendentes) da investigação espacial contemporânea. Um buraco negro foi flagrado “em linha” — formando um rastro de 200.000 anos-luz de comprimento de estrelas azuis recém-nascidas — pelo Telescópio Espacial Hubble da Nasa.
- Nova técnica revela um dos maiores buracos negros do Universo; entenda
- Cientistas encontram um buraco negro adormecido fora da Via Láctea
O artigo publicado por Van Dokkum — intitulado de A candidate runaway supermassive black hole identified by shocks and star formation in its wake, ou Um candidato a buraco negro supermassivo identificado por choques e formação estelar em seu rastro, em tradução livre — foi publicado nesta quinta-feira (6/4) na revista American Astronomical Society.
No estudo, Van Dokkum detalha o “monstro intergaláctico”, que pode pesar até 20 milhões de vezes o peso do Sol. Esse buraco negro viaja tão rápido — cerca de 1,600 quilômetros por segundo —, que os cientistas estimam que ele poderia chegar da Lua até a Terra em 14 minutos.
Esse rastro de estrelas do "fugitivo" pode ser explicado pelo fato de que o buraco negro viaja tão rápido, que não tem tempo de “engolir” objetos a sua frente. Uma das explicações é que o gás ao redor da massa é agitado e aquecido rápido demais ao entrar em contato com o buraco negro, e ao se resfriar é capaz de formar estrelas azuis. "O gás à sua frente fica em choque por causa desse impacto supersônico de alta velocidade do buraco negro que se move através do gás. Como isso funciona exatamente, não é algo realmente conhecido", explica van Dokkum.
O professor ainda completa: "Achamos que estamos vendo um rastro atrás do buraco negro, onde o gás esfria e é capaz de formar estrelas. Então, estamos olhando para a formação estelar seguindo o buraco negro".
Como se uma “linha” de buraco negro já não fosse surpreendente por si só, Van Dokkum detalha ainda que a descobre foi feita quase que por acidente. "É pura coincidência que o tenhamos encontrado. Eu estava apenas examinando a imagem do Hubble e notei que temos um pequeno traço. Imediatamente pensei, 'oh, um raio cósmico atingiu o detector da câmera e causou um artefato de imagem linear', mas quando eliminamos os raios cósmicos, percebemos que ainda estavam lá. Não se parecia com nada que já vimos antes”.
De onde pode ter surgido esse “monstro intergaláctico”?
A existência de um rastro de estrelas em um buraco negro só não é mais curioso do que a dúvida: de onde ele surgiu? Segundo o próprio Van Dokkum detalha, uma tese possível para a origem do buraco negro "fugitivo" foi a “expulsão” de um buraco negro instável. Ou seja, os pesquisadores estimam que há cerca de 50 milhões de anos, duas galáxias tenham se fundido, formando dois buracos negros. A supermassa dos dois centros pode ter acabado gerando um terceiro buraco negro, menor (datado de aproximadamente 39 milhões de anos).
O problema é que a instabilidade entre os três sistemas pode ter gerado um impulso tão grande que “expeliu” o buraco negro “mais novo” — por isso o apelido de “fugitivo”. Esse impulso lhe rendeu uma hipervelocidade e então a capacidade de gerar um rastro de estrelas azuis.
Os cientistas deixam claro que o buraco negro “fugitivo” ainda precisa ser melhor investigado, e isso deve ocorrer com ajuda do Telescópio Espacial James Webb e do Observátorio de Raios-X Chandra.
Saiba Mais
- Ciência e Saúde Vacina contra a gripe pode reduzir o risco de infarto e AVC, aponta estudo
- Ciência e Saúde Personal muda de perfil e cabe no bolso do aluno
- Ciência e Saúde Exercícios para todos os gostos e faixas etárias
- Ciência e Saúde O que pode acontecer com organismo de homem que vai viver 100 dias debaixo d’água
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.