Jornal Correio Braziliense

Animais

Inseticidas a base de glicose mudaram hábitos sexuais das baratas

Estudo indica que as fêmeas passaram por uma mutação que causa aversão ao doce secretado pelos machos, impedindo o acasalamento

Os métodos para tentar exterminar baratas como o açúcar envenenado causaram uma mutação que as fazem odiar doces mas, em consequência, dificultam os hábitos sexuais desses insetos. Uma nova pesquisa, indica que o ritual de acasalamento dos machos para atrair as fêmeas pode ter sido alterado por uma aversão à glicose.

O objetivo do estudo — publicado na revista científica Proceedings of The Royal Society B nesta quarta-feira (29/3) — envolveu pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e tinha como objetivo investigar como a rápida evolução de um sistema sensorial dos animais pode interferir em seus comportamentos e como eles podem lidar com isso.

O animal escolhido com o objeto foi a espécie barata alemã (Blattella germanica) que sofreu mudanças adaptativas.

Normalmente, ao procurar uma parceira, as baratas machos produzem um líquido doce nas costas para atrair as fêmeas. As fêmeas então montam neles para desfrutar o açúcar enquanto o macho a agarra para começar a copular. Esse processo pode durar até 90 minutos.

Contudo, a estratégia de tentar matar esses animais com inseticidas que tenham glicose na composição causaram a mudança no comportamento das fêmeas, uma espécie de aversão ao doce.

Após essa mutação, as fêmeas rejeitam o doce nas costas dos parceiros uma vez que a saliva delas decompõe a maltose na secreção das costas em glicose, fazendo com que rejeitem o macho e desmontem do parceiro mais cedo.

Diante disso, os pesquisadores perceberam que as baratas macho agora produzem um líquido que contém cinco vezes menos glicose e 2,5 mais maltotriose, uma mistura capaz de atrair as fêmeas e permitir o acasalamento. Isso só se torna possível porque a maltotriose leva cerca de cinco minutos para se decompor em glicose, então quando a fêmea detectar a doçura, ela já estará "presa" pelo macho e o acasalamento já estará em curso.

Além disso, neste cenário, os machos que conseguiram acasalar com sucesso conseguiram "prender" as fêmeas em 2,2 segundos após serem montados — um segundo mais rápido que o normal.

Entretanto, esta evolução comportamental não foi adotada por todos os machos e alguns deles, especialmente os que ainda secretam com glicose, apresentam dificuldade na hora do acasalamento.