Depois que a ex-Spice Girl Mel B, 43 anos, revelou ter se submetido à raspagem vaginal após o divórcio com o ex-marido Stephen Belafonte, o procedimento parece ter se tornado uma escolha recorrente das mulheres que passaram pelo fim de um relacionamento. Mas os médicos alertam para os riscos da intervenção. Conhecido também como rejuvenescimento vaginal, o procedimento é desaconselhado por órgãos internacionais de saúde.
Ao Correio, a ginecologista e obstetra Bárbara Freyre, membro da Academia Brasileira de ginecologia regenerativa, estética e funcional (ABGREF), explica que a única raspagem vaginal que apresenta evidência científica para rastreio de doenças, feita de forma suave, em pequena área delimitada, superficial e sem causar lesões é a do exame conhecido como “papanicolau”. Nele, é feita a delicada raspagem de algumas células do colo do útero e da vagina e posterior análise em microscópio para rastreamento das lesões precursoras do câncer do colo do útero.
A especialista pontua, no entanto, que nos últimos anos surgiram alguns casos de famosas que se submeteram a uma técnica agressiva de raspagem vaginal que sugeriria a remoção ou abrasão das camadas de células da superfície da região, visando rejuvenescimento íntimo ou até mesmo com a promessa de se livrar de vestígios do último parceiro sexual.
"Esclareço que a barreira epitelial da mucosa vaginal atua como uma importante barreira física para micro-organismos patogênicos, e a remoção ou abrasão dessa barreira deixa a mulher exposta a infecções e altera a homeostase do trato genital, sendo, portanto, a prática da raspagem vaginal para fins estéticos ou de 'limpeza' absolutamente contraindicada por toda comunidade científica competente", alerta a ginecologista.
Freyre explica que a vagina é autolimpante e que o pH ácido (entre 3,8 e 4,5), a microbiota própria e a produção de secreções conseguem manter o processo fisiológico de renovação celular. "O que não quer dizer que não existam meios de rejuvenescer e melhorar a estética íntima. Existe hoje uma área dentro da ginecologia chamada de ginecologia estética e funcional voltada apenas para essas questões", acrescenta.
A médica afirma que o laser vaginal tem se destacado como um excelente aliado para estímulo de colágeno e melhora no estado da mucosa que reveste as paredes vaginais, promovendo a reidratação e recuperação funcional dos tecidos vaginais de forma segura e baseada em evidências. "É indicado para mulheres que sofrem com atrofia vaginal, secura vaginal, frouxidão vaginal, e incontinência urinária", finaliza.
Em julho de 2018, a US Food and Drug Administration (FDA) emitiu um alerta de saúde em relação à raspagem vaginal agressiva. "Os produtos têm sérios riscos e não possuem evidências adequadas para apoiar seu uso para esses fins. Estamos profundamente preocupados que as mulheres estão sendo prejudicadas”, disse o comunicado.
Em agosto de 2022, a British Association of Aesthetic Plastic Surgeons (BAAPS) e o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), ambos do Reino Unido, também fizeram um alerta para a falta de evidências sobre a segurança ou eficácia do rejuvenescimento vaginal.
Mel B faz raspagem na vagina para remover vestígios de ex-marido abusivo
Em 2019, a ex-Spice Girl Mel B revelou ao jornal britânico The Guardian, que fez a raspagem vaginal para remover qualquer vestígio do ex-marido, acusado de ter abusado psicológica e fisicamente dela durante os dez anos de relacionamento.
Durante a gravação do podcast que apresenta, ela detalhou o procedimento. "Eles rasparam o interior da minha vagina e colocaram um novo tecido. É quase como acontece com uma vítima de estupro que, essencialmente, quer se limpar daquilo", disse a cantora.
"Eu não queria sentir que a última pessoa que estivesse dentro de mim fosse esse monstro. Falei para o médico que ele podia ir lá dentro e tirar tudo, mas depois, era para embrulhar em um lenço de papel", completou.