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James Webb descarta condições habitáveis em planeta parecido com a Terra

Localizado a 39 anos-luz da Terra e descoberto em 1990, o sistema Trappist-1 atraiu expectativa da comunidade astronômica por apresentar características semelhantes à Terra

Análise feita com dados obtidos pelo telescópio espacial James Webb descarta a existência de uma atmosfera habitável no primeiro planeta do sistema Trappist-1, o Trappist-1b. O exoplaneta tem outros seis "irmãos", de estrutura rochosa semelhante à Terra em massa e tamanho, que formam o sistema planetário considerado pelos astrônomos como o de maior chance de abrigar vida fora do Sistema Solar.

Localizado a 39 anos-luz da Terra e descoberto em 1990, o sistema Trappist-1 atraiu expectativa da comunidade astronômica por apresentar características semelhantes à Terra e ao próprio Sistema Solar, como o fenômeno de orbitar ordeiramente em volta da estrela principal.

Apesar das características, as hipóteses não puderam ser estudadas pela falta de um telescópio equipado com ferramentas capazes de ler até os mínimos elementos que podem estar presentes no sistema. Tudo mudou quando James Webb foi lançado e, finalmente, foi iniciada uma exploração detalhada no local. A análise sobre o primeiro planeta do sistema planetário foi publicada nesta segunda-feira (27/3) na revista Nature.

De acordo com pesquisadores do Centro de Pesquisa Ames da Nasa, dos EUA, e da Universidade de Paris-Cité, na França, responsáveis pelo estudo, não havia expectativa para encontrar atmosfera habitável em Trappist-1b, por ser o mais próximo da estrela central do sistema, mas a análise precisava ser feita para entender as condições em que orbitam os planetas no conjunto.

NASA/JPL-Caltech/R. Hurt, T. Pyle (IPAC) - O Trappist-1b é o planeta mais próximo do sistema Trappist-1

O que descobriram foi uma falta total de qualquer atmosfera — não só uma que contenha biomarcadores de vida, como gás oxigênio, dióxido de carbono, vapor de água ou metano. Além disso, a falta de atmosfera no planeta traz um mau presságio para os outros seis, que se situam mais longe do “sol” do sistema, 12 vezes menor do que o da Terra, o que dificulta o equilíbrio de temperatura para sustentar um ambiente habitável.

Mas não é hora de ser pessimista, dizem os especialistas: a análise mostra o poder do Webb em varrer todos os cantos do sistema planetário, considerado um laboratório para estudar as condições em que planetas surgem e como as condições adequadas para a vida se movem entre eles — ou sequer existem.

O primeiro passo, de acordo com o pesquisador de exoplanetas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge Julien de Wit, é usar “o poder de Webb para entender a estrela” de Trappist-1, antes de avançar para analisar os outros seis planetas do sistema. Ao conhecer as características desse sol, é possível entender melhor o que é do planeta e o que é atividade da estrela, “que pode estar contaminando essas medições”.

Webb detectou falta de atmosfera com lente infravermelho e técnica eclipsal

Para verificar a atmosfera de Trappist-1b, Webb utilizou o Instrumento de Infravermelho Médio (Miri) para observar o brilho do planeta sem a interferência da estrela central — momento possível quando ocorre um eclipse secundário, momento em que o planeta passa atrás da estrela. O brilho é medido pela emissão de radiação do planeta e do sol do sistema.

Ao ser ocultado pelo sol, os cientistas conseguiram medir a quantidade exata de brilho emitido pelos dois objetos estelares e constataram que o valor expedido por Trappist-1b é mais alto do que deveria ser para um planeta com uma atmosfera. “Se TRAPPIST-1b tivesse uma atmosfera, teria recirculado a energia absorvida da estrela e parecia menos brilhante do que o medido”, escreve a equipe no estudo. Também não foram encontrados nenhum indício de dióxido de carbono no planeta, um dos biomarcadores que revelam atmosferas habitáveis.

“A interpretação mais direta é que há pouca ou nenhuma atmosfera planetária redistribuindo a radiação da estrela hospedeira e também nenhuma absorção atmosférica detectável do dióxido de carbono (CO2 ) ou outras espécies”, citam os especialistas.

NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (IPAC) - Ilustração feita pela Nasa mostra o sistema e as possibilidades de vida: entre o terceiro e o sexto planetas, há chance de ter até mesmo água líquida (pingos no "chão). Já o último exoplaneta é permeado de baixas temperaturas
NASA/JPL-Caltech/R. Hurt, T. Pyle (IPAC) - O Trappist-1b é o planeta mais próximo do sistema Trappist-1
NASA/JPL-Caltech/R. Hurt, T. Pyle (IPAC) - O Trappist-1b é o planeta mais próximo do sistema Trappist-1