O passado atmosférico de Vênus pode ter sido bem diferente da atual realidade do planeta, considerado um dos mais secos, quentes e pobres em oxigênio do Sistema Solar. Um estudo promovido por pesquisadores da Universidade de Chicago descobriu que o círculo rochoso pode ter abrigado oceanos líquidos e uma atmosfera que sustentava um ambiente habitável — e a menos tempo do que se imagianva.
Os cientistas do Departamento de Ciências Geofísicas da instituição Alexandra Warren e Edwin Kite, responsáveis pela análise, contam que decidiram estudar as possibilidades de vida em Vênus após estudos de colegas sustentarem a hipótese de que no início do Sistema Solar, quando a taxa de radiação solar era 30% menor do que a atual, o planeta teria uma temperatura de superfície bem menor e uma atmosfera fina que permitia água líquida na superfície.
Para averiguar a hipótese, os pesquisadores construíram um modelo de prospecção em que tinham como partida a ideia de que Vênus teria, sim, oceanos líquidos. O objetivo era encontrar uma hipótese em que, ao passar dos anos, as mudanças climáticas e geológicas do planeta levassem à realidade atual. Caso não encontrassem, a hipótese de oceanos líquidos seria permanentemente descartada. O resultado do estudo foi publicado no início de março na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
A construção do modelo para analisar a possibilidade de oceanos em Vênus foi feita com a ajuda de uma inteligência artificial. Os cientistas preencheram o modelo com diversos níveis de oceano e com progressão dessas bacias de água por meio de três processos diferentes de evaporação e remoção do oxigênio do planeta.
Após o preenchimento dos dados, a dupla executou o modelo com três diferentes pontos de partida de tempo diferentes 94.080 vezes — cada vez o sistema dava uma pontuação que depois foi ranqueada para averiguar qual hipótese se aproximava mais da atmosfera atual de Vênus.
O estudo revelou que das 94.080 execuções diferentes do modelo, apenas “algumas centenas” se enquadraram em realidades que levariam a atmosfera real de Vênus verificada hoje.
Surpreendentemente, apesar de grande parte das tentativas mostrarem que o planeta esteve em condições inabitáveis por mais de 70% da história dele — quatro vezes mais do que alguns estudos anteriores revelaram — houve alguns modelos que revelaram ser possível períodos de tempo em que Vênus era habitável.
As era habitáveis, dizem os pesquisadores, teriam terminado antes de 3 bilhões de anos atrás e os oceanos teriam profundidade máxima de 300 metros. O marco temporal é posterior a quando os cientistas descobriram, de acordo com registros fósseis, o início da vida na Terra.
O fator fortalece a esperança dos pesquisadores de que teria vida em Vênus quando os oceanos estiveram presentes no atual planeta seco e abafado: é comprovado que a água líquida é necessária para a existência da vida, já que com a Terra foi assim. E se a vida foi registrada na Terra há cerca de 3,5 a 4 bilhões de anos atrás, é provável que o planeta considerado irmão do habitat humano também teria abrigado vida ao sustentar água líquida na superfície há 3 bilhões de anos.
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