O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia concorda que os coronavírus são uma ameaça que precisa estar sob constante vigilância, assim como o Influenza, que provocou pandemias em 1918 e 2009 e voltou a causar preocupação pela disseminação da cepa H5N1, causadora da gripe aviária.
"São vírus que vieram para ficar e podem causar novas pandemias. Mesmo esse, SARS-CoV-2, com novas variantes, pode causar novos aumentos de casos e novas manifestações clínicas ainda desconhecidas da gente", diz Chebabo.
"Tanto o Influenza quanto os coronavírus infectam outras espécies, e por isso não podem ser eliminados como os vírus que só infectam humanos, como sarampo ou poliovírus. Eles estão espalhados na natureza, e só essa questão já os torna importantes, mas, além disso, são vírus respiratórios, o que faz com que tenham a transmissão facilitada, sem precisar de um vetor. Não é necessário nem um contato íntimo, apenas contato próximo".
O epidemiologista Pedro Hallal lembra que a história da saúde pública registra que eventos com a dimensão da pandemia de covid-19 são raros e acontecem apenas uma vez por geração. Mas surtos epidêmicos menores podem ser mais frequentes.
"Acho que a gente vai ter surtos epidêmicos, talvez mais frequentes do que a gente tinha normalmente, e talvez causados pelos próprios coronavírus."
Apesar do otimismo, ele vê que as ações humanas que causam o desequilíbrio de ecossistemas e as mudanças climáticas contribuem para que a humanidade corra mais riscos de viver novas emergências globais de saúde pública. Vírus zoonóticos como o coronavírus, que podem saltar para seres humanos, ganham mais oportunidades quando esses animais são deslocados de seus habitats naturais.
"Se a gente continuar errando tanto na pauta ambiental, talvez a gente aumente o risco de ter uma nova pandemia na nossa geração. Mas, em geral, acho que a probabilidade não é muito alta."
Marilda Siqueira também vê as mudanças climáticas como parte dos problemas que potencializam as ameaças de novas pandemias. Mas ela acrescenta que toda a interação homem-ambiente precisa ser incluída nessa discussão.
"Há também a nossa interação com as outras espécies por meio do desmatamento, e daquilo que preparamos para comer e sobreviver, e a forma como preparamos", afirma ela, que defende o incentivo a mais pesquisas de vigilância com uma perspectiva de saúde única, que leve em consideração também a saúde animal.
"Na natureza, temos reservatórios animais que têm vírus circulando de forma contínua, inclusive coronavírus. E também o vírus Influenza, presente em várias espécies de aves migratórias, que cruzam continentes, e alguns mamíferos. Se a gente não tiver, dentro de um conceito de saúde única, investimento nessa interação animal-humano, nós vamos ter mais problemas."
A virologista acredita que os avanços nos diversos campos da ciência envolvidos no combate à pandemia, assim como a formação de redes internacionais de pesquisadores, fortalecem a capacidade de a humanidade responder às próximas emergências sanitárias. Para isso, porém, também é preciso que governos e sociedades discutam o que funcionou e o que deu errado ao longo da crise da covid-19, para que as lições sejam aprendidas.
"Nós sabemos que vamos ter novas pandemias. A gente não sabe se será amanhã, daqui a dez anos ou daqui a 100 anos. As lições aprendidas são muito importantes para a preparação para novas pandemias ou epidemias, como a de dengue com que vivemos há décadas, ou a de chikungunya, que está em países vizinhos ao Brasil e pode voltar".