A longo prazo, a maior igualdade de gênero ajuda tanto mulheres quanto homens a viverem mais. A conclusão faz parte do primeiro grande estudo a investigar como medidas de combate à desigualdade podem interferir na expectativa de vida. Foram avaliados dados de 156 países, incluindo o Brasil. Na avaliação de Cat Pinho-Gomes, pesquisadora honorária do The George Institute for Global Health, no Reino Unido, os resultados evidenciam que políticas estruturadas de empoderamento feminino podem aumentar a longevidade da população em geral.
"À medida que os países avançam em direção à igualdade de gênero e as mulheres têm a oportunidade de participar mais plenamente da vida política, econômica e social, toda a sociedade colhe os frutos", enfatiza, em nota, a principal autora do estudo. O trabalho inédito contou com parceria de cientistas do Imperial College London, também no Reino Unido, e foi publicado na edição de ontem da revista PLOS Global Public Health.
Inicialmente, mostra o estudo, as medidas beneficiam principalmente a vida e a saúde das mulheres. Com o passar dos anos e a criação de um ambiente que propicia o avanço coletivo, os homens também passam a ser contemplados. "Muitos dos fatores que determinam quanto tempo você viverá — como trabalho e condições de vida, exposição à poluição, acesso a cuidados de saúde, educação, renda e apoio social — estão sobrepostos a diferenças de gênero em todo o mundo", afirma Cat Pinho-Gomes.
Para investigar o fenômeno, os cientistas tomaram como referência o Índice de Diferença de Gênero Global Modificado (mGGGI), baseado em dados do Fórum Econômico Mundial, de 2010 a 2021. O mGGGI permite comparar o estado atual e a evolução da paridade de gênero em quatro dimensões: economia (participação econômica e oportunidade), educação (realização educacional), saúde e empoderamento político. A dimensão saúde foi excluída por incluir o critério expectativa de vida saudável — que era justamente o objeto da pesquisa britânica.
Em 2021, a média dos 156 países mostra que cada aumento de 10% mGGGI foi associado a um aumento de 4,3 meses na expectativa de vida das mulheres e de 3,5 meses, na dos homens, com uma diferença de gênero mais ampla de oito meses. A direção e a magnitude dessas associações variaram entre as regiões. Por exemplo, cada aumento de 10% no mGGGI foi associado a uma diferença de gênero mais estreita de seis meses em países de alta renda e a uma diferença de gênero mais ampla de 13 meses no sul e sudeste da Ásia e na Oceania e de 16 meses na África Subsaariana.
Área-chave
No período analisado, houve uma melhora de apenas quatro pontos percentuais no mGGGI — de 58% em 2010 para 62% em 2021. Segundo os autores, a mudança foi impulsionada principalmente por aumentos nos subíndices políticos e econômicos, já que o da educação permaneceu relativamente estável. O cenário, avaliam, sinaliza que, entre as três dimensões incluídas, a igualdade de gênero na educação tem uma associação mais forte com o aumento da longevidade de mulheres e homens a longo prazo.
"Isso sugere que o investimento na educação é fundamental, especialmente em países de rendimento baixo e médio, onde muitas jovens ainda não têm acesso à educação e os recursos são limitados", afirma Pinho-Gomes. "Mesmo os países de alta renda — onde foram feitos progressos substanciais para lidar com as desigualdades de gênero nos últimos anos —, investir na igualdade de gênero ainda pode beneficiar a expectativa de vida, principalmente para os homens", completa.
Também segundo a pesquisadora, a associação mais fraca entre a igualdade de gênero no domínio político e o aumento da expectativa de vida levanta preocupações sobre como as medidas de equiparação têm sido implementadas pelos sistemas políticos. "Como vimos nas recentes renúncias de mulheres políticas de alto perfil, as mulheres ainda enfrentam desafios significativos nesse campo, incluindo discriminação, equilíbrio entre vida privada, familiar e política, obtenção de apoio de partidos políticos e garantia de financiamento de campanha", diz Cat Pinho-Gomes.
Pandemia
Em nota, os autores chamam a atenção para o fato de que desafios globais atuais — como o aumento do custo de vida, a pandemia da covid-19, a emergência climática e os conflitos e deslocamentos em larga escala — estão impedindo o progresso em direção à paridade de gênero. "Isso pode, por sua vez, comprometer o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria das condições de vida e de trabalho, freando os ganhos de expectativa de vida ocorridos nas últimas décadas", advertem.
Pinho-Gomes reforça o alerta: "Nosso estudo tem implicações importantes para os formuladores de políticas em todo o mundo, principalmente à medida que o mundo se recupera gradualmente dos inúmeros choques causados pela pandemia da covid-19, que teve um impacto de gênero em vários domínios da vida".
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