Jornal Correio Braziliense

Saúde Mental

Especialistas explicam se existe melhor horário para conversar com adolescentes

Manhã, tarde ou noite? Muitas teorias sobre os melhores horários já surgiram ao longo das anos. Especialistas ouvidos pelo Correio debatem a questão

A relação entre pais e adolescentes nem sempre é fácil. Muitas vezes, o semblante fechado e a falta de espaço para conversas são apenas um reflexo da busca pela autonomia e a própria identidade. Em meio a tantas mudanças, a adolescência pode ser um desafio para uma saúde mental saudável.

Lisa Damour, PhD em psicologia clínica, em um artigo publicado no jornal norte-americano The Washington post comenta sobre a possibilidade de um melhor "horário" para conversar com os adolescentes de forma mais eficaz. “As visitas noturnas resolvem para os adolescentes um genuíno dilema: eles podem satisfazer tanto o desejo de autonomia quanto o desejo oposto de se conectar com adultos amorosos”.

Essa prática pode dar autonomia a eles, já que decidem se haverá uma "conversa" e quando começará. Na maioria das vezes por experiência própria, os adolescentes entendem que é improvável os pais cansados puxarem conversa ao final de um dia de trabalho.

Adolescência em números

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos. Em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de incapacidade entre adolescentes. O suicídio ainda é a quarta principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos segundo a OMS.

Então, como os pais podem lidar com isso?

Para entender melhor sobre o assunto, o Correio ouviu o psicólogo André Carneiro. Segundo o especialista, “os pais devem se preocupar quando perceberem qualquer alteração na saúde mental dos adolescentes, que inicialmente apresentam comportamentos característicos de ansiedade ou depressão, como impaciência, sudorese, falta de ar, falta de apetite, falta de atenção, hiperatividade, melancolia, ataques de euforia, ataques de pânico dentre vários outros possíveis”.

O combate e a prevenção da saúde mental dos adolescentes deve começar com a educação dos jovens, pais e professores. Durante os atendimentos em consultório, Carneiro conta que a principal queixa do adolescente é sobre não ser correspondido pelos pais. Os jovens também apontam que os parentes não aceitam colocações ou demonstram interesse pelos assuntos dos adolescentes — além de serem culpados por ações que julgam não conhecimento.

“Expressar sentimentos de validação, escutar o adolescente e não apenas ouvir (sem atenção), tentar compreender os argumentos levados pelo adolescente; e não obrigar o adolescente a falar”. Essas são algumas dicas que Carneiro aponta para melhorar a relação com os jovens dentro de casa e fazer com que os adolescentes se expressem de maneira saudável.

Carneiro reforça: a comunicação é a melhor forma de evitar problemas relacionados a saúde mental.

Tempo de conversa pode ser a qualquer hora do dia

A psicóloga Marina Cavalcante conta que um tempo para a conversa é importante e necessário — e um horário específico não é prioridade: “Estamos vivenciando um período de alta produtividade, adultos e adolescentes em geral possuem agendas lotadas e pouco tempo de descanso. A busca pelo diálogo no período noturno pode ser consequência dessa rotina atribulada, mas conversar com o filho é necessário, e independe do horário”.

"Seja claro, adolescentes precisam saber exatamente o que se espera deles e que consequência terão se não cumprirem os combinados” completa a psicóloga.

*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes

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