ARQUEOLOGIA

Estagiário descobre tesouro escondido há 800 anos durante treinamento

Nicki encontrou o tesouro em um território próximo ao Complexo Arqueológico Fronteiriço Haithabu-Danewerk, na Alemanha, local eleito Patrimônio da Humanidade desde 2018

Talita de Souza
postado em 06/03/2023 20:46
 (crédito: ALSH)
(crédito: ALSH)

Sorte de principiante? O detector de metais arqueológicos em formação Nicki Andreas descobriu, durante um treinamento prático para estagiários na Alemanha, rastros de metais no solo estudado que levou à descoberta de um tesouro datado de 800 anos atrás. Compostos de joias de ouro e prata, os objetos remetem à Era Viking.

Nicki encontrou o tesouro em um território próximo ao Complexo Arqueológico Fronteiriço Haithabu-Danewerk, que é Patrimônio da Humanidade desde 2018. Ao comando do instrutor Arjen Spiebwinkel, o estagiário foi enviado para o treinamento com o detector de metais para um quadrante no terreno agrícola — foi apenas a terceira vez que ele utilizava o aparelho.

Ao perceber uma variação no painel de medição ligado à sonda de metal que varre o solo, Nicki chamou o instrutor e juntos informaram ao Departamento de Arqueologia do Estado a suspeita. Jan Fischer, especialista da área e responsável técnico de escavação do Departamento de Arqueologia, organizou, de imediato, o estudo do local.

  • Dois brincos de orelha em ouro de altíssima qualidade cravejados com pedras foram considerados o destaque da escavação ALSH
  • Fíbula pseudo moeda dourada. É uma imitação de uma moeda islâmica, um dinar de ouro almóada moldado em um fecho de manto na tradição escandinava. ALSH
  • Uma pequena seleção das moedas de prata parcialmente fortemente fragmentadas da época do rei Valdemar II ALSH

Uma área de 4 metros quadrados foi escavada ao redor do local onde foram detectadas as ondas de metal. “O tesouro consistia em dois brincos de ouro de altíssima qualidade cravejados com pedras, um disco de pseudo modela folheada a ouro, dois anéis folheados a ouro cravejados de pedras e um fragmento de anel”, detalha o documento do Departamento de Arqueologia do Estado, no qual é registrada a descoberta.

Além disso, ainda foram encontrados um pequeno disco perfurado folheado a ouro, um pequeno anel e aproximadamente 30 moedas de prata fortemente fragmentadas. Os objetos, de acordo com a equipe de escavação, estavam empilhados uns sobre os outros.

Para os arqueólogos, os objetos mais notáveis da descoberta são o par de brincos de ouro, que datam de cerca de 1.100 depois de Cristo e possuem uma estética de ourives bizantinos, cravejados em ouro de altíssima qualidade e decorado com pedras de diferentes cores.

A fíbula (círculo) de pseudo moeda folheada a ouro também é outro destaque para a equipe de escavação. “É uma imitação de uma moeda islâmica, um dinar de ouro almóada, que foi convertido em fecho de manto (broche) na tradição escandinava. Os almóadas foram uma dinastia muçulmana que governou grande parte do Magreb e do sul da Espanha entre 1147 e 1269”, detalha a equipe. A existência de uma imitação de moeda islâmica pode revelar a prática comercial existente na época na região Viking.

Os tesouros foram encontrados próximo à Vila Viking de Haithabu (ou Hedeby) é uma importante cidade viquingue dos dinamarqueses, localizada no norte da Alemanha, junto à atual fronteira com a Dinamarca, A região virou Patrimônio da Humanidade em 2018
Os tesouros foram encontrados próximo à Vila Viking de Haithabu (ou Hedeby) é uma importante cidade viquingue dos dinamarqueses, localizada no norte da Alemanha, junto à atual fronteira com a Dinamarca, A região virou Patrimônio da Humanidade em 2018 (foto: ALSH / Tom Körber)

Já o conjunto de moedas de prata tem importante papel para os arqueólogos definirem o momento em que o tesouro foi enterrado. Os artefatos datam do reinado do rei dinamarquês Waldemar II, apelidado de “Sejr” (o vencedor), atuante entre 1202 e 1241. “Isto sugere que o tesouro foi depositado na primeira metade do século XIII. Os achados foram enterrados há cerca de 800 anos perto de Haithabus”, revela o documento que registra os achados.

Os especialistas acreditam que uma pessoa escondeu o tesouro para buscá-lo mais tarde, o que nunca ocorreu. Restos de tecidos foram encontrados entre as moedas, o que reforçou a hipótese — a prática de guardar tesouros em sacos de tecido era comum na época.

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