Jornal Correio Braziliense

INOVAÇÃO

Cientistas criam versão de molécula oceânica que pode tratar o Parkinson

O processo de criação envolveu uma nova utilização de um composto antigo, cujo modelo pode beneficiar outros pesquisadores envolvidos na área farmacêutica

Uma descoberta feita por químicos da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, traz um avanço importante no tratamento da doença de Parkinson e distúrbios semelhantes. O grupo criou a primeira versão sintética de uma molécula retirada de uma esponja marinha, identificada com composições terapêuticas capazes de neutralizar outras moléculas que podem danificar parte de células ou destruí-las por completo.

O objetivo dos pesquisadores em transformar a molécula, conhecida como ácido lisodendórico A e extraída de esponjas marinhas, em um composto sintético era oferecer à indústria um elemento que permita a criação de medicamentos benéficos não só para pessoas com Parkinson, mas também para outras composições que beneficiem portadores de outras doenças. O estudo foi publicado na revista Science no fim de janeiro deste ano. 

“A grande maioria dos medicamentos hoje é feita por química orgânica sintética, e um de nossos papéis na academia é estabelecer novas reações químicas que possam ser usadas para desenvolver rapidamente medicamentos e moléculas com estruturas químicas intrincadas que beneficiem o mundo”, disse Neil Garg, professor de química e bioquímica da Universidade da Califórnia e autor principal do estudo, em um comunicado à imprensa.

Segundo os pesquisadores do estudo, o processo de sintetização é desafiador porque as moléculas orgânicas possuem uma característica chamada lateralidade. Funciona assim: as moléculas existem em duas formas distintas, mas são quimicamente iguais, como uma "mão" direita e a "mão" esquerda — cada uma dessas formas é denominada de enantiômero.

O problema é que quando utilizados em produtos farmacêuticos, um dos enantiômeros podem promover benefícios, enquanto o outro pode até mesmo ser perigoso para a saúde. No laboratório, a criação de moléculas orgânicas geralmente produz uma mistura dos dois enantiômeros e o processo de remover o que traz prejuízos à saúde custa caro e provoca atrasos no processo de sintetização. Com mais demora, menos agilidade em oferecer avanços para o tratamento de doenças.

Para driblar o desafio e criar um processo de sintetização rápido e eficaz, os pesquisadores empregaram um composto quase não utilizado atualmente nos laboratórios químicos: o aleno cíclico, descoberto em 1960. O elemento é capaz de controlar uma etapa crucial na cadeia de reações químicas necessárias para produzir uma versão utilizável do ácido lisodendórico A, sem o enantiômeros ruins para a saúde.

“Os alenos cíclicos foram amplamente esquecidos desde sua descoberta, mais de meio século atrás. Isso ocorre porque eles têm estruturas químicas únicas e existem apenas por uma fração de segundo quando são gerados”, conta Neil.

Os cientistas manipulam o aleno cíclico e conseguiram criar uma versão do elemento que foi capaz de provocar uma reação química na molécula de ácido lisodendórico A que extraiu apenas o enantiômero desejado, o que é capaz de promover benefícios clínicos. A otimização do processo permitiu uma criação rápida da versão sintética da molécula recém-descoberta, o primeiro passo para testar se o elemento conseguirá produzir as melhorias em tratamentos de doença.

Além disso, os pesquisadores afirmam que o uso bem-sucedido do aleno cíclico beneficia toda a gama de cientistas envolvidos na pesquisa farmacêutica. “Ao desafiar o pensamento convencional, agora aprendemos como fazer alenos cíclicos e usá-los para fazer moléculas complicadas como o ácido lisodendórico A”, disse Neil. “Esperamos que outros também possam usar alenos cíclicos para fazer novos medicamentos”.

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