Jornal Correio Braziliense

INOVAÇÃO

Descobertas as moléculas 'Keanu Reeves', armas mortais na luta contra fungos

A descoberta, feita por pesquisadores alemães, foi publicada no Journal of The American Chemical Society e na Revista Nature

Considerados uma ameaça crescente à saúde humana e aos campos agrícolas, os fungos têm se tornado alvo de frequentes pesquisas para encontrar novas maneiras de combatê-los. A batalha para derrotar os organismos ganhou uma nova aliada: os patógenos fúngicos — que também foram apontados como candidatos fortíssimos a iniciar um processo de zumbificação humana — enfrentarão uma molécula Keanu Reeves, descoberta por pesquisadores como altamente mortal para combater o avanço dos organismos invasores.

A molécula foi nomeada como Keanumicina pelos pesquisadores do Instituto Leibniz de Pesquisa de Produtos Naturais e Biologia de Infecções (Leibniz-HKI), líderes do estudo, em homenagem aos personagens mortais interpretados por Keanu Reeves.

"Os organismos matam com tanta eficiência os fungos que os batizamos em homenagem a Keanu Reeves, porque ele também é extremamente mortal em seus papéis", explica Sebastian Götze, principal autor do estudo. A descoberta foi publicada no Journal of The American Chemical Society e na revista Nature na segunda-feira (6/2).

A Keanumicina é originada por bactérias do gênero Pseudomonas, que liberam um composto natural, chamado de princípio ativo, com diversas moléculas para enfrentar amebas e sobreviverem a tentativa de “lanchinho” desses protozoários — que se alimentam de bactérias. A defesa é 100% eficaz contra as amebas.

Os pesquisadores suspeitaram que as keanumicinas poderiam matar patógenos fúngicos porque esses se assemelham, em muitas características, com as amebas. Para testar a teoria, o grupo isolou as moléculas de Keanu Reeves, o que gerou um sobrenadante — nome dado a um fluido composto apenas pelo princípio ativo sem presença da bactéria que o criou.

O líquido foi aplicado em uma folha de hortênsias contaminada por um mofo cinzento causado pelo fungo Botrytus cinerea. “O fluido foi suficiente para inibir significativamente o crescimento do fungo”, explicou Gotze. A molécula mortal ainda é biodegradável e não deixará resíduo permanente no solo, o que significa que o composto tem potencial para se tornar uma alternativa ambientalmente correta aos pesticidas químicos aplicados nas produções agrícolas.

Nancy Hughes/Unsplash - Mofos em frutas e verduras causados por fungos são responsáveis por perdas de milhares de colheitas todos os anos

Segundo os pesquisadores, fungos como o Botrytus causam imensas perdas na colheita de frutas e vegetais todos os anos: mais de 200 tipos diferentes desses elementos são afetados, especialmente morangos e uvas verdes. Assim, a Keanumicina poderá salvar desde produções que abastecem centros populacionais numerosos até uma pequena plantação que sustenta uma família ou um povoado.

Molécula Keanu Reeves também é eficaz contra fungos que atingem humanos

Fungos patogênicos humanos também são uma das grandes preocupações dos pesquisadores, visto que há poucos antifúngicos em circulação no mercado. Por isso, o grupo testou a Keanumicina para combater o fungo Candida albicans, incluído pela Organização Mundial da Saúde em uma lista de patógenos fúngicos de “prioridade crítica”. O organismo é responsável pela candidíase, infecção comum que afeta órgãos genitais e a garganta, mas que, em pessoas com sistema imunológico enfraquecido, pode causar infecção sistêmica e até mesmo fatal.

“Verificamos que ela inibe fortemente o fungo”, comemorou Gotze, que também informou que outros tipos de patógenos fúngicos foram derrotados no teste. “De acordo com os testes feitos até agora, o produto natural não é altamente tóxico para as células humanas e já é eficaz contra fungos mesmo em baixíssimas concentrações”, descreve o grupo.

Para os pesquisadores, a descoberta é um grande passo para combater fungos que atingem humanos no presente e aqueles no futuro. “Isso o torna (o composto da Keanumicina) um bom candidato para o desenvolvimento farmacêutico de novos antifúngicos. Estes também são necessários com urgência, pois existem muito poucos medicamentos contra infecções fúngicas no mercado”, detalha o grupo.

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