Um fenômeno iminente

Correio Braziliense
postado em 16/02/2023 06:00
 (crédito: Mario Tama/AFP)
(crédito: Mario Tama/AFP)

Uma rápida aceleração do aumento do nível do mar, em consequência da perda irreversível das camadas de gelo da Antártica e da Groenlândia, pode ser iminente se a temperatura global não se estabilizar abaixo de 1,8°C, em relação aos níveis pré-industriais. O alerta é de um grupo internacional de pesquisadores, em um artigo publicado na revista Nature Communications. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud), os últimos seis anos foram os mais quentes desde 1880, quando as medições começaram. Em 2020, a temperatura mundial estava 1,2°C acima do documentado no século 19 e, com o ritmo atual das emissões de CO2, as estimativas são de aumento no registro dos termômetros.

No artigo, os autores lembram que, em todo o mundo, populações costeiras se preparam para o aumento do nível do mar. Porém, as projeções do modelo climático mais recentes, apresentadas no sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), indicam que a rapidez com que as principais camadas de gelo responderão ao aquecimento global dificulta o planejamento de ações para evitar inundações e outros danos.

O derretimento das camadas gélidas é o maior contribuinte para as mudanças no nível do mar e, historicamente, o mais difícil de prever, porque a física por trás do comportamento oceânico é complexa, argumentam os autores. A partir de um novo modelo, que, pela primeira vez, captura o acoplamento entre mantos de gelo, icebergs, oceano e atmosfera, a equipe de pesquisadores descobriu que um efeito de descontrole do manto de gelo/nível do mar só pode ser evitado se o mundo atingir o valor líquido de zero emissões de carbono antes de 2060.

"Se não tomarmos nenhuma atitude, o recuo das camadas de gelo continuará a aumentar o nível do mar em pelo menos 100cm nos próximos 130 anos", afirmou Axel Timmermann, coautor do estudo e diretor do Centro de Física Climática Universidade Nacional Pusan, na Coreia do Sul. "Isso se somaria a outras contribuições, como a expansão térmica da água oceânica."

O estudo destaca a necessidade de desenvolver modelos mais complexos do sistema terrestre que capturem os diferentes componentes climáticos, assim como suas interações. "Um dos principais desafios na simulação de mantos de gelo é que mesmo os processos de pequena escala podem desempenhar um papel crucial na resposta em larga escala de um manto de gelo e nas projeções correspondentes do nível do mar", diz Timmermann.

Para Robin Smith, pesquisador do Centro Nacional de Ciências Atmosféricas da Universidade de Reading, no Reino Unido, é urgente ampliar o entendimento de "como as camadas de gelo e suas interações frequentemente negligenciadas" podem ser incluídas nas projeções climáticas e de aumento do nível do mar. "Ao incluir essas interações em seu modelo, os autores do estudo demonstram claramente a possibilidade de a temperatura desencadear níveis extremamente prejudiciais de aumento do nível do mar mesmo abaixo do limite de 2ºC, frequentemente usado para definir mudanças climáticas 'seguras'", diz Smith, que não participou da pesquisa. 

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