transplante

Cientistas estudam remédio que pode fazer o coração durar mais fora do corpo

Uso de remédio comum para tratar convulsões prolonga a sobrevida do órgão doado, podendo ampliar o prazo para transporte e armazenamento. Segundo cientistas estadunidenses, a estratégia tem potencial para otimizar as cirurgias de transplante

Correio Braziliense
postado em 11/02/2023 06:00
 (crédito: ICDF/Divulgação)
(crédito: ICDF/Divulgação)

A janela de tempo durante a qual um coração pode sobreviver fora do corpo do doador antes do transplante gira em torno de quatro horas. Isso inviabiliza muitas cirurgias do tipo, enquanto milhares de pessoas — no Brasil, são 402, segundo o Ministério da Saúde — aguardam na fila de espera. Agora, um estudo publicado na revista Science Translational Medicine indica que é possível solucionar o problema usando um medicamento comum originalmente desenvolvido para tratar convulsões.

Os pesquisadores, da Universidade de Saúde de Michigan, nos Estados Unidos, descobriram uma maneira de reprogramar corações de doadores para aumentar a produção de uma enzima benéfica que aumenta a quantidade de tempo em que os órgãos podem ser armazenados e transportados. O tratamento também melhora a função cardíaca pós-transplante.

"Essa tecnologia que estimula os corações dos doadores a montar respostas adaptativas à existência fora do corpo pode levar a uma mudança de paradigma não apenas para estender o tempo que um coração pode ficar fora do doador durante o transporte, mas também para melhorar a função cardíaca após o transplante", disse Paul C. Tang. "Conseguir estender o armazenamento de corações descobrindo os caminhos que definem e modulam a biologia da preservação é o primeiro passo em direção ao objetivo final dos bancos de órgãos."

Disfunção

Em cerca de 10% a 20% dos transplantes de coração, os órgãos transplantados não conseguem bombear sangue suficiente para abastecer o resto do corpo. A condição, conhecida como disfunção primária do enxerto, é responsável por quase 40% das mortes precoces após o procedimento e é relativamente comum, apesar da tecnologia mais recente de preservação, a máquina de perfusão cardíaca.

Os pesquisadores de Michigan buscaram reduzir a disfunção primária do enxerto aumentando a produção de itaconato, substância anti-inflamatória e antioxidante produzida pela enzima Irg1. Esse metabólito neutraliza os efeitos do succinato, molécula nociva que se acumula enquanto o coração está congelado e cria uma onda de estresse oxidativo, causando mau funcionamento do órgão.

Para evitar o problema, os pesquisadores usaram o ácido valproico, a base do medicamento anticonvulsivante. Eles descobriram que a substância inviabilizou uma quantidade significativa do estresse cumulativo em humanos e em porcos. O remédio é aprovado pelo órgão de vigilância sanitária norte-americano, o Food and Drug Administration (FDA). Por isso, os cientistas acreditam que o caminho para um ensaio clínico pode ser mais curto.

"Essa descoberta vai permitir que um coração chegue a pacientes em locais de difícil acesso, impactando muito o panorama do transplante de órgãos", disse Y. Eugene Chen, coautor do estudo. "Espera-se que os princípios abrangentes aqui se apliquem à preservação de outros órgãos, como pulmões, fígado e rins. Eu também anteciparia que essa estratégia de tratamento seria relevante para outras condições em que o suprimento de sangue é interrompido, como ataque cardíaco ou derrame."

Cobertura do Correio Braziliense

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

Notícias no celular

O formato de distribuição de notícias do Correio Braziliense pelo celular mudou. A partir de agora, as notícias chegarão diretamente pelo formato Comunidades, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp. Não é preciso ser assinante para receber o serviço. Assim, o internauta pode ter, na palma da mão, matérias verificadas e com credibilidade. Para passar a receber as notícias do Correio, clique no link abaixo e entre na comunidade:

Apenas os administradores do grupo poderão mandar mensagens e saber quem são os integrantes da comunidade. Dessa forma, evitamos qualquer tipo de interação indevida. Caso tenha alguma dificuldade ao acessar o link, basta adicionar o número (61) 99666-2581 na sua lista de contatos.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Descobertos genes-chave do infarto

Cientistas da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, identificaram genes que desempenham papéis-chave no desenvolvimento da doença arterial coronariana, que pode resultar em um infarto. A expectativa é de que a descoberta, detalhada na revista Circulation Research, abra caminhos para novos tratamentos e estratégias de prevenção.

Mete Civelek, pesquisador sênior do estudo, conta que, nos últimos 15 anos, investigações com dados de mais 1 milhão de pessoas chegaram a centenas de locais no cromossomo humano ligados ao aumento do risco para a ocorrência de um ataque cardíaco. "Agora, identificamos os genes responsáveis por esse risco nesses locais. Seremos capazes de usar essas descobertas como novos alvos terapêuticos", afirma, em nota.

O grupo examinou células coletadas de 151 doadores de transplante de coração previamente saudáveis em busca de informações sobre a atividade dos genes nas células musculares lisas. Essas células revestem as artérias, mas também podem servir como base para as placas de gordura que se acumulam dentro delas.

As análises indicaram valiosas informações genéticas, como diferenças significativas entre homens e mulheres nas expressões em células musculares lisas. Os cientistas disponibilizaram as descobertas em um site gratuito para que outros cientistas revisem os dados e cheguem a novas descobertas. "Esperamos que alguns desses genes sejam alvos de uma nova classe de medicamentos que visam o desenvolvimento de placas nas artérias para o benefício de milhões de pacientes", afirma Civelek.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE