Pesquisadores da Universidade de Reading, na Inglaterra, sugerem que a melhor maneira de salvar espécies de carnívoros à beira da extinção, como linces, ursos e leões, é investir em um modelo de desenvolvimento social e econômico sustentável, em vez de focar apenas em questões como mudanças climáticas. "Precisamos, urgentemente, desenvolver soluções que possam apoiar tanto a biodiversidade quanto as pessoas, e talvez as economias avançadas do mundo precisem oferecer mais ajuda financeira para proteger nossa biodiversidade global", assinalam os autores do artigo, divulgado na revista Nature Communications.
Desenvolvido em parceria com o Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido e o Instituto de Biologia Subtropical da Argentina, o trabalho se baseou na análise de tendências populacionais. Os pesquisadores examinaram como as mudanças no sistema social e econômico poderiam promover a recuperação dos carnívoros.
Principal autor do artigo, Thomas Frederick Johnson, da Universidade de Reading, destaca que, uma vez que as pessoas alcancem uma alta qualidade de vida e o desenvolvimento econômico desacelere, um ponto de virada é alcançado, e as espécies quase extintas têm uma oportunidade de se recuperar. Na avaliação dos cientistas, "à medida que as pessoas ficam mais ricas, sua tolerância a grandes felinos e outros carnívoros aumenta".
Tolerância
Os pesquisadores ressaltam que o desenvolvimento econômico acelerado torna as pessoas menos tolerantes com os carnívoros. Assim, surgem conflitos e mais casos de caça furtiva e perseguição. "Nosso habitat e clima se tornaram degradados e caóticos para abrir caminho para um rápido desenvolvimento econômico. Sabemos que isso levou ao declínio da biodiversidade, mas nossa pesquisa descobriu que esse desenvolvimento econômico está causando declínios muito mais extremos do que se esperava e imaginava", assinala Johnson.
De acordo com os especialistas, o ressurgimento de grandes carnívoros já pode ser visto na Europa Ocidental, "onde uma melhor qualidade de vida e um desenvolvimento econômico mais lento permitiram que as populações de lobos cinzentos disparassem 1.800% desde a década de 1960". Dessa forma, o estudo considera que a recuperação dessas espécies pode estar ligada a uma relação mais harmoniosa entre pessoas e carnívoros. "O que antes era considerado uma praga perigosa, agora é reconhecido como um componente importante de nossos ecossistemas e cultura", concluem os pesquisadores.