Silencioso
O Alzheimer é o tipo mais comum de demência — dados da Fundação Sueca do Cérebro mostram que corresponde de 60% a 70% dos casos — e começa se desenvolvendo de forma silenciosa. De acordo com os autores do artigo, as mudanças biológicas no cérebro começam de 20 a 25 anos antes que a perda de memória e outros sintomas cognitivos se tornem evidentes.
As células nervosas da região degeneram como resultado do acúmulo anormal das proteínas beta-amiloide e tau. À medida que mais neurônios cerebrais são danificados, isso se manifesta na disfunção das funções cognitivas, como memória e fala, explicam os cientistas. Quanto mais cedo a complicação for descoberta, maiores a chances de enfrentá-la. "Essa é uma das muitas razões pelas quais são necessárias mais pesquisas sobre métodos precisos e fáceis de diagnóstico precoce", ressaltam, em nota.
Cura
Especialista em neurologia cognitiva e do comportamento, Carlos Enrique Uribe afirma que a estratégia de procurar marcadores e sinais que antecipam os riscos de uma pessoa ter Alzheimer mobiliza cientistas há muitos anos. No caso do trabalho sueco divulgado na última edição da Brain, o ineditismo está em a investigação ter "afetado" diretamente a doença.
Para Uribe, esse pode ser um caminho para estratégias que curem a doença. "Ao tentar encontrar a origem do problema, é possível mudar a história natural dele. Essa estratégia funciona para se chegar a um procedimento que seja de cura, mudando o mecanismo fisiopatológico da doença. Na medicina, chamamos isso de tratamentos modificadores da doença, e isso ainda não existia no Alzheimer", diz.
Uribe faz ressalvas. Ele lembra que o estudo analisou pacientes com Alzheimer ligado a fatores genéticos. "Como não é o caso mais comum, esses resultados têm que ser avaliados com cuidado, porque a doença geneticamente determinada está sendo um modelo para o estudo da doença esporádica (sem fatores hereditários). Às vezes, as coisas não funcionam com essa relação direta", explica.
Análise ampliada
O especialista em neurologia cognitiva e síndromes demenciais Arthur Jatobá conta que alguns biomarcadores para o diagnóstico precoce do Alzheimer estão disponíveis, mas não para a população geral. "O diagnóstico hoje, para a maioria dos pacientes, é feito por avaliação clínica, neuropsicológica e realização de exames de imagem cerebral (ressonância magnética de crânio)", diz.
A expectativa do médico é de que, no futuro, esse tipo de análise seja mais acessível e abranja diversos indicadores biológicos de risco aumentado. "Acredito que, nos próximos anos, poderemos ter um exame de sangue com um painel de vários biomarcadores para a doença de Alzheimer, como a proteína beta amiloide, a tau, a GFAP e a NfL. Isso vai nos ajudar no diagnóstico precoce da doença", diz.