Um estudo promovido por antropólogos argentinos do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) refuta o entendimento da comunidade antropológica quanto à data em que humanos chegaram ao Brasil — por volta de 32 mil anos atrás. Ao analisarem as ferramentas rochosas encontradas em supostos sítios arqueológico no Piauí — consideradas a maior prova para a presença de homo sapiens no local —, dois pesquisadores afirmam que há indícios de que os objetos foram, na verdade, feitos por um grupo de macacos-prego.
A descoberta, publicada na revista The Holocene na última segunda-feira (2/1), mostra que o povoamento primitivo das Américas não ocorreu na data apontada pelos primeiros arqueólogos que analisaram o acervo de ferramentas rochosas compostas de quartzito e pedras de quartzo originadas encontradas no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí.
Por serem creditadas a humanos, o sítio arqueológico Pedra Furada, assim como outros três ao redor, foram considerados o palco da primeira aparição humana na América do Sul, ainda no período Pleistoceno, no quaternário da era Cenozóica.
Mas não é bem assim, diz o estudo. Ao longo dos anos, alguns especialistas chegaram a sugerir que os sítios poderiam ser de outros animais e não de humanos por não apresentar algo simples: o toque humano. Em nível mundial, presenças de homo sapiens eram caracterizadas por desenhos rupestres e ferramentas mais elaboradas.
O que foi descoberto no Piauí, no entanto, deixou os supostos sítios humanos no mesmo patamar ao de macacos-prego, muito presentes na região. “Deve-se apontar que os sítios pleistocênicos do Piauí compartilham com os sítios capuchinhos (dos macacos-prego) a ausência de atributos humanos inequívocos como lares, ossos marcados, matérias-primas exóticas, vestígios de comportamento simbólico ou ferramentas de pedra como lâminas, artefatos e flocos delgados bifacialmente”, explica Agustin Agnoli, autor principal do estudo.
Análise comparou ferramentas e cenário dos sítios
Com a dúvida na mesa, os antropólogos argentinos resolveram analisar as fotos das ferramentas encontradas no sítio. Eles compararam o material com as ferramentas feitas por macacos-prego no mesmo período. Foram analisados pedras lascadas — martelos quebrados e peças lascadas, como pedras em formato de concha.
O uso primário das pedras é semelhante aos dois grupos (humanos e macacos): criar ferramentas através da quebra de uma pedra sobre a outra, além de quebrar frutas, como noz, com uma pedra, ou ainda usar o objeto rochoso para cavar.
O que diferencia a presença dos dois grupos em um local, explica o estudo, são atribuições excedentes, como a existência de lareiras, lâminas, ossos com marcas de corte, matérias-primas exóticas ou traços de comportamento simbólico.
Na análise, as ferramentas encontradas nos sítios da região da Pedra Furada mostram uma falta de habilidade humana. “As ferramentas de pedra desses sítios do Pleistoceno são caracterizadas por sua baixa diversidade morfológica, incluindo martelos, bigornas, lascas e lascas retocadas”, define o estudo.
“Os objetos são feitos de matéria-prima imediatamente disponível no local, que não foi transportada de muito longe e foi amplamente adquirida a menos de 20 metros de distância”, avança a descrição que credita as pedras consideradas de uso humano como, na verdade, feitas por macacos.
Para o grupo, não há dúvida de que os sítios foram ocupados por macacos-prego e não humanos. “Em suma, com base em evidências negativas e positivas, estamos confiantes de que os primeiros sítios arqueológicos do Brasil (por exemplo, Pedra Furada, Vale de Pedra Furada, Toca da Tira Peia, Sítio do Meio) podem não ser de origem humana, mas podem pertencer a capuchinhos macacos”, conclui o estudo.
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