Jornal Correio Braziliense

atividade física

Exercícios do dia a dia também trazem benefícios à saúde, mostra estudo

Aumentar a intensidade de atividades do dia a dia, como brincar com as crianças e ir ao supermercado, reduz o risco de mortalidade por todas as causas tanto quanto os exercícios físicos feitos de forma estruturada, mostra pesquisa australiana

Sete anos

Os pesquisadores usaram dados de rastreadores de pulso do UK Biobank, um amplo banco de dados biomédicos do Reino Unido, para medir o movimento de mais de 25 mil pessoas não praticantes de exercícios que relataram não fazer esportes ou atividades físicas no tempo livre. Pelo método, portanto, eles concluíram que qualquer movimentação registrada nesse grupo era não intencional, realizada como parte da vida cotidiana. A equipe, então, acessou dados de saúde dos participantes, o que os permitiu acompanhar os voluntários ao longo de sete anos.

Os resultados indicaram que 89% deles faziam alguma Vilpa diariamente, totalizando, em média, seis minutos. No geral, cada atividade durava cerca de 45 segundos. Os benefícios à saúde foram proporcionais a maiores quantidades de sessões: 11 diárias associaram-se a uma redução de 65% no risco de morte cardiovascular e 49% por câncer, comparado a quem não registrou nenhum exercício não intencional. No caso de quatro ou cinco Vilpas, a mortalidade por essas causas foi 40% e 48% menor, respectivamente. Os autores lembram que o estudo é observacional — ou seja, não é possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito.

Ao comparar as conclusões da amostra com dados de atividade vigorosa de 62 mil pessoas que praticavam exercícios regularmente, os cientistas encontraram resultados similares. Ou seja, os benefícios à saúde são semelhantes para pessoas que se exercitam fazendo esportes ou frequentando academias e para aquelas que se movimentam intensamente em tarefas do dia a dia.

Até 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerava como exercício físico apenas os estruturados (intencionais). Porém, a comissão das Diretrizes Globais da OMS sobre Atividade Física e Comportamento Sedentário, copresidida por Stamatakis, reconheceu que toda forma de manter o corpo em movimento conta. Além disso, foi removida do texto a indicação de que são necessárias sessões acumuladas de, no mínimo, 10 minutos.

"O estudo é observacional. Portanto, sempre há a possibilidade de causação reversa, ou seja, é possível que pessoas com níveis naturalmente altos de condicionamento físico também exibam outros fatores constitucionais que os protegem de doenças", observa David Stensel, professor de metabolismo do exercício da Universidade de Loughborough, na Inglaterra, que não participou da pesquisa.

O especialista também alerta que os autores não demonstraram que a atividade física vigorosa e intermitente no estilo de vida aumenta a aptidão cardiorrespiratória — um mecanismo potencial para explicar as descobertas. "No entanto, as conclusões são importantes e provocativas e devem estimular mais pesquisas, gerando maiores percepções sobre os potenciais benefícios para a saúde desse tipo de atividade", acredita.

Frase

"Trata-se simplesmente de aumentar o ritmo ao caminhar ou de fazer as tarefas domésticas com um pouco mais de energia”

Emmanuel Stamatakis, professor do Centro Charles Perkins da Universidade de Sydney e principal autor do estudo

Andar desengonçado também ajuda

Reprodução - Estilo Teabag, baseado nos comediantes do Monty Python

Andar de um jeito desengonçado por alguns minutos pode ser mais divertido e levar a um gasto calórico mais elevado que a caminhada comum, segundo um estudo publicado na revista The British Medical Journal. Os pesquisadores avaliaram um estilo de andar que ficou célebre pela comédia Ministry of Silly Walks, do grupo Monty Python, uma sátira à ineficiência da burocracia no serviço público britânico. No programa, os personagens Teabag e Putey, interpretados por John Cleese e Michael Palin, se deslocavam de uma forma engraçada, com golpes de perna para frente e para trás.

Glenn Gaesser, principal autor do estudo e pesquisador da Faculdade de Soluções em Saúde da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, explica que a ideia de estudar o gasto calórico desse tipo de caminhada surgiu do fato de que as taxas globais de sedentarismo não sofreram alteração nos últimos 20 anos, apesar das campanhas de estímulo à atividade física e ao aumento da capacidade cardiovascular. Ele imaginou que um estilo mais divertido e rápido de exercício poderia atrair pessoas que não se sentem confortáveis com as modalidades habituais.

Para isso, realizou testes com 13 pessoas saudáveis entre 22 e 71 anos, que assistiram a um vídeo ensinando a caminhada de Ministry of Silly Walks. Depois, os voluntários testaram esse tipo de deslocamento por cinco minutos, percorrendo um circuito interno de 30m. Eles usaram equipamentos de monitoramento que permitiram calcular a velocidade média, o consumo de oxigênio, o gasto energético e a intensidade do exercício. Surpreendentemente, andar como os personagens da comédia britânica resultou em uma queima de calorias 2,5 vezes maior que a caminhada comum.

Os pesquisadores estimam que os adultos podem atingir 75 minutos de atividade física de intensidade vigorosa por semana caminhando no estilo de Teabag — em vez do usual — por cerca de 11 minutos diários. Deslocar-se dessa forma de 12 a 19 minutos por dia aumentaria o gasto energético em aproximadamente 100 kcal no período. Os ganhos para a saúde são muitos, argumentam, destacando o aumento de aptidão cardiorrespiratória e a redução do risco de mortalidade. “Nossa análise da energia consumida durante diferentes estilos de caminhada procura estimular as pessoas a moverem o próprio corpo de maneira mais enérgica — e, esperançosamente, alegre”, sustenta Gaesser. 

Palavra de especialista

“O que é diferente nesta pesquisa é que os pesquisadores estudaram como os padrões de exercício se relacionam com a saúde futura, quer o participante tenha ou não a intenção de fazer o exercício. Eles descobriram uma associação entre melhor saúde na idade adulta e períodos curtos de atividade vigorosa, quer o exercício tenha sido feito intencionalmente como parte de um programa ou apenas por se parte de sua rotina, como, por exemplo, correr para pegar o ônibus. A principal limitação é que esses dados são observacionais”

Paul Leeson, professor de medicina cardiovascular da Universidade de Oxford

O treino

– 3 a 4 sessões de 60 segundos diários dessas atividades foram associadas a 40% de redução na mortalidade por todas as causas e até 49% em relação a óbitos decorrentes de doenças cardiovasculares

– 11 atividades não intencionais vigorosas de 45 segundos por dia foram associadas a redução de 65% no risco de morte cardiovascular e de 49% por câncer

– 5 atividades não intencionais vigorosas de 45 segundos por dia foram associadas a redução e 40% no risco de morte cardiovascular e de 48% por câncer