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Entenda a missão da nave que viajará rumo a Júpiter em abril

Em tempos de ousadas missões espaciais, a nave Juice se prepara para viajar até a base de lançamento, na Guiana Francesa. Em oito anos, a sonda deve revelar se os satélites do gigante gasoso contêm água líquida sob a crosta, condição para a existência de vida

Paloma Oliveto
postado em 25/01/2023 06:00 / atualizado em 25/01/2023 06:19
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Depois de décadas de marasmo espacial, o Universo volta a receber a visita de sondas que, entre outras missões, preparam terreno para explorações que vão além do Sistema Solar. Entre elas, a Juice, acrônimo de Jupiter ICy moons Explorer, o explorador das luas geladas de Júpiter que, no início de fevereiro, embarcará de Toulouse, na França, para Kourou, na Guiana Francesa. Do país sul-americano, a espaçonave não-tripulada será lançada, em abril, rumo ao gigante gasoso.

Pronta para ser embalada, Juice passará por um último teste de seus gigantes painéis solares antes de partir das instalações da Airbus, que a fabricou. Com 6,2t e uma antena de 2,5m de diâmetro, a nave levará ao espaço 10 instrumentos científicos, incluindo o mais poderoso sensor remoto já enviado para o Sistema Solar externo — planetas com as órbitas mais afastadas do Sol.

De acordo com a Agência Espacial Europeia (ESA), que comanda a missão, ao longo de oito anos e 600 milhões de quilômetros, Juice deverá explorar os segredos de Júpiter, com cinco questões centrais a serem investigadas: como são os mundos oceânicos do planeta; por que a lua Ganimedes é tão peculiar; a possibilidade de haver ou ter existido vida no sistema e como se formou e funciona um típico gigante gasoso. Os quatro maiores satélites jupiterianos são conhecidos como "luas galileanas"; desses, três — Ganimedes, Europa e Calisto — podem ter água líquida embaixo das crostas.

Desafios

"O objetivo principal é investigar se existem oceanos líquidos sob as crostas geladas, que possam abrigar componentes orgânicos ou mesmo vida", disse, em um comunicado, Vincent Poinsignon, gerente do projeto Juice. Para isso, os desafios serão enormes. A sonda deve lidar com temperaturas extremas, muito altas ou baixas, pois circundará a Terra, Marte e Vênus para as manobras de assistência à gravidade, com objetivo de ganhar a velocidade suficiente para alcançar a órbita de Júpiter. O ambiente frio do gigante gasoso também dificulta o armazenamento de energia. Mas, segundo Poinsingon, superados os percalços, a espaçonave abrirá caminhos infinitos: "Se você pode chegar a Júpiter, você pode fazer qualquer coisa".

Segundo Cyril Cavel, que chefiou o projeto da Juice na Airbus, o estudo dos oceanos poderá responder se existem condições para que a vida como se conhece se sustente fora da Terra. "Vamos tentar categorizar esses oceanos líquidos para checar se podem ou não conter formas primitivas de vida. Esse é o aspecto central da missão", disse, em nota.

Uma vez concluída com sucesso, a missão ajudará a entender o chamado sistema solar miniaturizado em Júpiter, explicou à agência France Presse (AFP) a chefe da interface de lançamento da sonda na Esa, Manuela Baroni. "Você pode considerar Júpiter como um gigante gasoso com esses satélites girando em torno dele. Então, pode considerá-lo um mini sistema solar. E, ao estudá-lo, podemos encontrar diferenças e semelhanças com nosso Sistema Solar, compreendê-lo melhor e entender como ele foi formado e como funciona."

Galileo

Em um evento para a imprensa, a Airbus inaugurou uma placa comemorativa, montada na sonda, para homenagear o astrônomo italiano Galileo Galilei. O cientista foi o primeiro a ver Júpiter e suas maiores luas com um telescópio, em 1610.

"A revelação da placa é um belo momento neste intenso capítulo que prepara a espaçonave para o lançamento", disse Giuseppe Sarri, gerente do projeto Juice da Esa. "Não é apenas uma oportunidade para fazer uma pausa e refletir sobre o trabalho árduo de décadas dedicado à concepção, construção e teste da espaçonave, mas também para celebrar a curiosidade e a admiração de todos que já olharam para Júpiter no céu noturno e refletimos sobre nossas origens — a inspiração por trás dessa missão.

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Ficha técnica

Nome: Juice (Jupiter ICy moons Explorer)

Objetivo: A missão caracterizará as luas geladas oceânicas de Júpiter — Ganimedes, Europa e Calisto — como objetos planetários e possíveis habitats; explorará o ambiente complexo de Júpiter em profundidade e estudará o sistema de planetário como um modelo para gigantes gasosos em todo o Universo.

Pergunta-chave: A origem da vida é exclusiva da Terra ou poderia ocorrer em outro lugar do Sistema Solar — ou mesmo além?

Lançamento: Previsto para o espaçoporto da Europa em Kourou, Guiana Francesa, em um lançador Ariane 5, em algum momento de abril.

Jornada e órbita: Juice passará aproximadamente oito anos viajando para Júpiter, com chegada prevista para julho de 2031. Seis meses antes de entrar em órbita em torno de Júpiter, a espaçonave passará muitos meses orbitando o planeta, completando voos rasantes em Europa, Ganimedes e Calisto.

Instrumentos: Juice levará 10 instrumentos de última geração, incluindo o mais poderoso sensor remoto, geofísico e complemento de carga já enviado para o Sistema Solar externo. 

Legado: A missão abrirá caminho para uma futura exploração extensiva dos diversos ambientes extremos no distante Sistema Solar externo.

Fonte: Agência Espacial

Europeia (ESA)

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