Inédito

Cientistas usam laser para desviar raios; entenda como o processo funciona

Segundo os cientistas, os raios atmosféricos atingem o solo terrestre entre 40 e 120 vezes por segundo e matam mais de 4 mil pessoas por ano, além de causarem prejuízos econômicos que chegam a casa de bilhões de dólares

Correio Braziliense
postado em 18/01/2023 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Pela primeira vez, uma equipe científica internacional conseguiu usar um laser para redirecionar raios. Formada por especialistas de seis instituições, a equipe trabalha há duas décadas em uma alternativa aos para-raios. Em vez de atraí-los, o grupo decidiu desviá-los. E conseguiu durante um experimento em uma montanha suíça. A façanha foi detalhada, nesta semana, na revista Nature Photonic.

"Queríamos oferecer a primeira demonstração de que um laser pode influenciar os raios e que é mais fácil guiá-los", conta, à agência France-Presse de notícias (AFP), Aurélien Houard, físico do Laboratório de Óptica Aplicada da Escola Politécnica de Paris. Houard lidera o projeto com Jean-Pierre Wolf, do grupo de Física Aplicada da Universidade de Genebra.

O raio é uma descarga de eletricidade estática acumulada entre duas nuvens durante uma tempestade ou entre essas nuvens e a Terra. Ao emitir um laser, a equipe conseguiu criar um plasma — ar carregado de íons e elétrons — que é parcialmente condutor. Dessa forma, ele se torna um caminho preferencial para o raio, explica Houard.

O primeiro teste com a técnica ocorreu em 2004, no Novo México, mas não teve o resultado esperado. Segundo a equipe, houve erros no laser e dificuldade em identificar onde o raio cairia. O grupo, então, encontrou uma solução a 2.500 metros de altitude, no topo da montanha Santis, no nordeste da Suíça. No local, existe uma torre de telecomunicações com 124 metros de altura e que recebe cerca de 100 raios todos os anos.

Três vezes

Ao longo de dois anos, os cientistas construíram um laser potente dentro de um telescópio. Por suas características, o instrumento consegue concentrar a intensidade do feixe de luz em poucos centímetros. No verão de 2021, eles conseguiram atrair e guiar raios a mais de 50 metros. O experimento bem-sucedido foi repetido três vezes.

"Esse trabalho abre caminho para novas aplicações atmosféricas de lasers ultracurtos e representa um importante passo no desenvolvimento de uma proteção contra raio baseada em laser para aeroportos, plataformas de lançamento ou grandes infraestruturas", enfatizam os autores do estudo.

Segundo os cientistas, os raios atmosféricos atingem o solo terrestre entre 40 e 120 vezes por segundo e matam mais de 4 mil pessoas por ano, além de causarem prejuízos econômicos que chegam a casa de bilhões de dólares. Os para-raios, a principal proteção atual contra essas descargas elétricas potentes, foram criados no século 18.

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