CIÊNCIA

Estudo encontra 21 tipos de agrotóxicos em alimentos para bebês

No Brasil não existe uma legislação para limitar a concentração de resíduos de agrotóxicos em alimentos infantis

Maryanna Aguiar — Especial para o Correio
postado em 12/01/2023 19:25 / atualizado em 12/01/2023 19:25
Os resultados foram obtidos a partir da análise de 50 amostras de alimentos comercializados no estado de São Paulo -  (crédito:  CESAR MANSO/AFP)
Os resultados foram obtidos a partir da análise de 50 amostras de alimentos comercializados no estado de São Paulo - (crédito: CESAR MANSO/AFP)

Um estudo realizado por cientistas brasileiros e da Espanha diagnosticou em alimentos industrializados para bebês — as famosas papinhas — a presença de 21 agrotóxicos e quatro toxinas ocasionadas por fungos do gênero Aspergillus. Os resultados foram obtidos a partir da análise de 50 amostras de alimentos comercializados no estado de São Paulo.

Entre os agrotóxicos foram encontrados fungicidas, inseticidas e herbicidas. A ausência de aflatoxinas (uma das possíveis toxinas ocasionadas pelo Aspergillus) foi uma boa notícia para os cientistas, já que a toxina é danosa ao organismo humano e animal, tendo variantes cancerígenas.

Em relação aos agrotóxicos, o estudo registrou em primeiro plano a presença de sete dos 21 compostos que foram rastreados, sendo que 68% das amostras continham resíduos de pesticidas e 47% das papinhas com frutas em sua composição apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico.

Legislação brasileira

O estudo utilizou como padrão de limites de resíduos os dados estabelecidos pela legislação europeia de 2006 e concluiu que as porcentagens encontradas ficaram abaixo do máximo “aceitável”, uma vez que na União Europeia o limite é 10 microgramas por quilo de alimentos para diferentes agrotóxicos.

No Brasil não existe uma legislação para limitar a concentração de resíduos de agrotóxicos em alimentos infantis. Segundo a engenheira de alimentos, Rafaela Prata, que conduziu a pesquisa com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o que existe hoje “são monografias sobre agrotóxicos no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que consultamos para ver em quais cultivos o uso de determinado produto é autorizado, bem como os limites máximos em alimentos, mas nada sobre as papinhas”.

Segundo a pesquisadora, o Brasil precisa de uma regulamentação específica para os produtos alimentícios infantis: "Os bebês são um grupo populacional sensível e vulnerável porque ingerem mais alimentos por quilograma de peso corporal do que os adultos e os sistemas de desintoxicação e vias metabólicas não estão totalmente desenvolvidos. É importante conhecer a composição dos alimentos oferecidos a eles”, conclui a pesquisadora.

O artigo Targeted and non-targeted analysis of pesticides and aflatoxins in baby foods by liquid chromatography coupled to quadrupole Orbitrap mass spectrometry ("Análise direcionada e não direcionada de pesticidas e aflatoxinas em alimentos para bebês por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa quadrupolo-Orbitrap", em tradução literal) foi divulgado pela revista Food Control e pode ser lido na íntegra neste link.

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