CIÊNCIA

Doenças cardiovasculares estão cada vez mais letais e evitáveis, diz relatório

Relatório atualiza os impactos das doenças cardiovasculares, consideradas a principal causa de morte no mundo e responsáveis por queda na qualidade de vida. Em mais de 80% dos casos, mudanças no estilo de vida impediriam o adoecimento

Em um mundo com 8 bilhões de habitantes, as doenças cardiovasculares (DCVs) continuam sendo a principal causa de morte, embora 80% dos casos possam ser evitados. O relatório do Colégio Norte-Americano de Cardiologia, que complementa e atualiza o Estudo Global de Carga de Doenças, Lesões e Fatores de Risco, analisou dados de 204 países, incluindo o Brasil. O foco do trabalho, divulgado ontem em uma edição especial do jornal da sociedade médica, são as condições evitáveis que podem levar ao desenvolvimento das DCVs.

"A saúde cardiovascular tem um grande impacto em nossa qualidade de vida e no sistema de saúde como um todo", disse, em nota, Gregory A. Roth, autor sênior do artigo e diretor do Programa em Métricas de Saúde Cardiovascular no Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington. "Mais de 80% das doenças cardiovasculares são evitáveis. Com essa atualização, estamos mensurando algumas tendências globais alarmantes e revisando as intervenções atuais que podem ajudar os países a fazerem boas escolhas baseadas em evidências para seus sistemas de saúde", explicou.

Segundo o estudo, globalmente, a doença isquêmica do coração é a principal causa de morte cardiovascular, sendo responsável por 9,44 milhões de óbitos em 2021 e 185 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs). Esse indicador é um reflexo do impacto de uma enfermidade sobre a qualidade de vida, pois considera o tempo em que uma pessoa vive com um mal incapacitante. A análise regional revela que a Ásia Central é a parte do globo com maior mortalidade por DCVs: 516,9 ocorrências por 100 mil indivíduos. Em contraste, países de renda alta da Ásia-Pacífico registraram a menor taxa: 76,6 em 100 mil.

A maior parte desses óbitos poderia ter sido evitada, dizem os especialistas. A pressão arterial elevada, por exemplo, é prevenível e, quando já instalada, controlada. Ainda assim, é o principal fator de risco modificável para mortes cardiovasculares prematuras. Foram 11,3 milhões de casos em 2021. De todas as mortes por DCVs, 10,8 milhões tiveram essa causa. O relatório destaca que os DALYs devido à hipertensão foram 2.770 por 100 mil pessoas.

Também fatores de risco modificáveis, os hábitos alimentares representaram 6,58 milhões de mortes por DVC e 8 milhões de óbitos no total em 2021. Entre os principais desencadeadores, segundo o relatório, estão o baixo consumo de frutas, vegetais, legumes, grãos integrais, nozes e leite, entre outros, e o excesso de ingestão de carnes vermelhas e processadas, bebidas açucaradas, gordura trans e sódio. Entre outros problemas, a dieta inadequada altera o colesterol LDL, o índice de massa corporal e a glicemia de jejum, com impactos cardiovasculares.

Segundo a médica nefrologista Caroline Reigada, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, dos fatores dietéticos, o excesso de sal é um dos grandes vilões do coração e da saúde vascular. "O sal é a maior causa de hipertensão arterial. Além de retenção de líquidos, causa estreitamento das arteríolas (ramificações das artérias), com consequente elevação da pressão arterial", diz. "Dados recentes mostram que o sódio também modula o funcionamento de células imunológicas, apoiando a teoria do aumento inflamatório no organismo", explica.

"Esse atlas serve como um lembrete oportuno sobre a importância de fatores de risco modificáveis para doenças cardíacas, como pressão alta", disse, em nota, George A. Mensah, MD, autor do artigo e diretor do Centro de Pesquisa de Tradução e Ciência de Implementação no Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Hematológico dos Estados Unidos. "As mortes por hipertensão aumentaram constantemente nos Estados Unidos nos últimos 20 anos, o que reflete as tendências em outras regiões e deixa os pesquisadores ansiosos para encontrar soluções práticas e inovadoras."

Álcool e tabagismo

A edição especial do Jornal do Colégio Norte-Americano de Cardiologia também destaca o uso de álcool, o sedentarismo, o tabagismo e o fumo passivo como fatores de risco cardiovascular que podem ser evitados. "O cigarro pode causar problemas circulatórios como arteriosclerose e tromboangeíte obliterante, distúrbio que afeta as extremidades do corpo", diz a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Outra relação da nicotina com as DCVs é a diminuição da espessura dos vasos sanguíneos e a redução da concentração de oxigênio no sangue. "Todo esse processo pode causar complicações para o normal funcionamento dos vasos, que ficam mais suscetíveis ao entupimento, podendo levar a processos de trombose", destaca.

Fatores ambientais, como poluição atmosférica e doméstica, exposição ao chumbo e temperaturas extremas são outros riscos destacados pelo relatório. Recentemente, a Associação Norte-Americana do Coração divulgou um comunicado afirmando que mais de 3,5 milhões de mortes no mundo são causadas por DCVs associadas à má qualidade do ar, fora ou dentro de casa.

Hormônio é ligado a risco na menopausa

Cientistas da Universidade de Pittsburgh identificaram uma ligação entre um hormônio menos conhecido, chamado anti-Mülleriano (HAM), e os níveis de lipídios em mulheres de meia-idade. Com essa informação e com o que se sabe sobre o estrogênio, os médicos podem obter uma imagem melhor do risco cardiovascular para as pessoas que estão entrando na menopausa, afirmaram, em um artigo publicado no Journal of Clinical Lipidology.

Ao longo do período anterior, durante e após a cessação da menstruação, também conhecido como transição da menopausa, as mulheres de meia-idade correm um risco maior de doenças cardiovasculares com alterações nos níveis lipídicos, como um aumento acentuado do LDL-C ou "colesterol ruim". Os cientistas determinaram, anteriormente, que a relação pode ser parcialmente devido a uma diminuição nos níveis de estrogênio. No entanto, a terapia de reposição desse hormônio não teve os efeitos cardioprotetores que os médicos esperavam.

"Agora, estamos obtendo mais informações sobre outros marcadores que podem desempenhar um papel importante e dizer às mulheres, de maneira mais precisa e consistente, onde elas estão em relação à transição da menopausa", diz Samar R. El Khoudary, professora de epidemiologia na Escola de Saúde Pública de Pitt. O HAM é um deles. Trata-se de um hormônio que é mais bem estudado como um fator importante para determinar o sexo de um feto no útero. Recentemente, no entanto, descobriu-se que a substância tem uma conexão forte e confiável com o momento da transição para a menopausa.

A equipe da médica acompanhou um grupo diversificado de 1.440 mulheres de meia-idade durante a transição da menopausa, nos EUA. Os pesquisadores descobriram que, enquanto o alto nível de estrogênio era importante para diminuir os níveis de colesterol ruim, taxas maiores de HAM eram responsáveis pela redução do HDL-C ou "colesterol bom". Embora o novo biomarcador ainda precise ser confirmado, a cientista acredita que ele poderá inspirar novas terapias que reduzem o risco cardiovascular associado à menopausa.

1,1 mil óbitos por dia

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares representam a principal causa de mortes no Brasil: são mais de 1,1 mil óbitos por dia, cerca de 46 por hora, 1 a 90 segundos. As DCVs são responsáveis pelo dobro de mortalidade registrada por todos os tipos de câncer juntos. Até o fim deste ano, a associação médica prevê que 400 mil brasileiros morram por enfermidades do coração e do sistema vascular.

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1,1 mil óbitos por dia

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares representam a principal causa de mortes no Brasil: são mais de 1,1 mil óbitos por dia, cerca de 46 por hora, 1 a 90 segundos. As DCVs são responsáveis pelo dobro de mortalidade registrada por todos os tipos de câncer juntos. Até o fim deste ano, a associação médica prevê que 400 mil brasileiros morram por enfermidades do coração e do sistema vascular.

Hormônio é ligado a risco na menopausa

Cientistas da Universidade de Pittsburgh identificaram uma ligação entre um hormônio menos conhecido, chamado anti-Mülleriano (HAM), e os níveis de lipídios em mulheres de meia-idade. Com essa informação e com o que se sabe sobre o estrogênio, os médicos podem obter uma imagem melhor do risco cardiovascular para as pessoas que estão entrando na menopausa, afirmaram, em um artigo publicado no Journal of Clinical Lipidology.

Ao longo do período anterior, durante e após a cessação da menstruação, também conhecido como transição da menopausa, as mulheres de meia-idade correm um risco maior de doenças cardiovasculares com alterações nos níveis lipídicos, como um aumento acentuado do LDL-C ou "colesterol ruim". Os cientistas determinaram, anteriormente, que a relação pode ser parcialmente devido a uma diminuição nos níveis de estrogênio. No entanto, a terapia de reposição desse hormônio não teve os efeitos cardioprotetores que os médicos esperavam.

"Agora, estamos obtendo mais informações sobre outros marcadores que podem desempenhar um papel importante e dizer às mulheres, de maneira mais precisa e consistente, onde elas estão em relação à transição da menopausa", diz Samar R. El Khoudary, professora de epidemiologia na Escola de Saúde Pública de Pitt. O HAM é um deles. Trata-se de um hormônio que é mais bem estudado como um fator importante para determinar o sexo de um feto no útero. Recentemente, no entanto, descobriu-se que a substância tem uma conexão forte e confiável com o momento da transição para a menopausa.

A equipe da médica acompanhou um grupo diversificado de 1.440 mulheres de meia-idade durante a transição da menopausa, nos EUA. Os pesquisadores descobriram que, enquanto o alto nível de estrogênio era importante para diminuir os níveis de colesterol ruim, taxas maiores de HAM eram responsáveis pela redução do HDL-C ou "colesterol bom". Embora o novo biomarcador ainda precise ser confirmado, a cientista acredita que ele poderá inspirar novas terapias que reduzem o risco cardiovascular associado à menopausa.